O Estado de S.Paulo - 09/03
Como o pesadão besouro, tão pesadão, o Brasil tem dificuldades para voar. Mas a temporada trouxe novos limitadores de voo.
Na semana passada, 15 associações do setor elétrico advertiram o governo para a situação delicada do suprimento de energia. A seca esvaziou os reservatórios (veja gráficos) e há ponderadas dúvidas sobre a real capacidade de as usinas térmicas darem conta do recado. É por essas razões que certos analistas chegam a aplaudir o baixo crescimento: imaginem o problemão se, em vez de 1,5% ao ano, a economia estivesse rodando a 3% ou 4%, como pretendia o governo.
As dúvidas crescentes sobre a capacidade de geração de quilowatts trazem de volta a velha discussão dos economistas sobre o potencial de crescimento da economia. Mas este não é o único fator a cercear cruelmente a capacidade de produção no País.
Um dos mais lembrados é o baixo nível do investimento, que não consegue chegar aos 19% do PIB. Está ligado ao também baixíssimo nível de poupança do brasileiro, avaliado em apenas 13,9% do PIB, pelas Contas Nacionais do quarto trimestre de 2013. (Este foi o foco do comentário desta Coluna no dia 6.)
A inflação à altura dos 6% ao ano é outra barreira. Qual não seria a inflação dos preços livres, de 7,3% em 2013, se o PIB estivesse avançando os tais 3% ou 4% ao ano? E quanto mais o governo teria de represar os preços administrados para conter a escalada? Seria inevitável, também, que o Banco Central puxasse os juros ainda mais para cima para provocar a convergência para a meta de 4,5% ao ano. E não convém parar por aí. O aprofundamento do represamento dos preços administrados (especialmente o dos combustíveis e os da energia elétrica) agravaria as distorções por ele provocados. Seria inevitável, por exemplo, transferência ainda maior de recursos do Tesouro para as concessionárias de energia de modo a cobrir a diferença de custos dos combustíveis queimados nas termoelétricas. E se aprofundariam os desarranjos no setor do açúcar e do álcool.
Outro limitador do crescimento econômico é o mercado de trabalho. A escassez de mão de obra, especialmente da qualificada, não é apenas fator de alta de custos do sistema produtivo, como ainda quinta-feira o Banco Central advertiu na Ata do Copom. É variável cerceadora, que comparece cada vez mais às novas equações do investimento.
E há o gargalo de dólares. O forte aumento de importação de derivados de petróleo para dar conta do consumo e do funcionamento das usinas térmicas já pressiona a balança comercial, como mostraram as estatísticas dos dois primeiros meses do ano. O rombo em Conta Corrente fechou em 2012 a 2,4% do PIB, saltou para 3,7% do PIB em 2013 e ainda não parou de aumentar. Este é mais um sintoma de que o consumo avança a níveis excessivos.
Finalmente, a inexorável questão fiscal. O Tesouro não é mais a fonte inesgotável de recursos. Não pode mais operar políticas contracíclicas, como catapultas do crescimento econômico.
Ou seja, crescer mais do que está crescendo parece hoje mais problema do que solução para este besouro.
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