FOLHA DE S. PAULO - 09/03
BRASÍLIA - A crise na Venezuela escancara de uma vez por todas: a política externa (como tudo) é exclusividade de Dilma Rousseff, e seu operador é o assessor Marco Aurélio Garcia, principal quadro do PT para a área internacional.
E o Itamaraty? O Itamaraty, como as Forças Armadas, bate continência. Assim como o brasileiro é, antes de tudo, um forte, diplomatas e militares são, antes de tudo, carreiras de Estado que cumprem ordens. Nunca isso ficou tão ostensivo.
Caracas e grandes cidades venezuelanas estão em chamas, acumulando, até a sexta-feira, 20 mortos, 300 feridos e uma multidão de presos --incluindo jornalistas. Não se prega a queda do presidente Maduro, mas ele tem de dialogar e ceder.
O governo brasileiro, porém, prefere olhar o lado de Maduro a arriscar uma visão mais panorâmica que abranja oposição e manifestantes.
Se é assim, os vizinhos tinham de ter apoiado Collor contra os caras-pintadas? Ou depende da cor?
Em entrevista à Telesur, rede de televisão criada por Chávez, o chanceler venezuelano, Elías Jaua, agradeceu o apoio: "Recebemos, por meio de Marco Aurélio Garcia, a mensagem clara e firme do governo do Brasil, rechaçando a violência como forma de fazer política e oferecendo sua colaboração".
Enquanto Garcia, em paralelo às cerimônias de um ano de morte de Chávez, transmitia in loco o apoio ao regime Maduro, o Itamaraty aguardava as ordens em Brasília.
Não se faz mais diplomacia como antigamente, quando recados eram dados, não por um assessor, mas pelo presidente, pelo chanceler ou pelo embaixador no país. A diplomacia cedeu aos partidos.
O apoio do governo do Brasil não foi só retórico, foi prático: ajudou a escantear os EUA de qualquer tipo de negociação e a articular uma reunião da Unasul pró-Maduro.
Resta saber se essa posição do governo é também a do próprio Brasil --ou seja, a dos brasileiros.
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