FOLHA DE SP - 04/12
Economia já mal das pernas foi contaminada ainda pelo tumulto político e financeiro do trimestre
FOI RUIM, mas não poderia ter sido muito melhor, o desempenho da economia no terceiro trimestre. Ator principal da comédia de erros encenada desde o final de 2011, o governo foi coadjuvante menor do filme B do PIB do período.
A economia encolheu, como se sabe. Na salada de motivos possíveis e prováveis está o tumulto político e financeiro do trimestre. As manifestações de junho e suas sequelas derrubaram não apenas o prestígio de governantes.
Os brasileiros tiveram também um ataque de ansiedade sobre o futuro de seus empregos e salários. Pesquisa Datafolha publicada no domingo mostrou que a expectativa de aumento de salário despencou no mesmo ritmo da popularidade da presidente. Gente com medo de perder emprego e/ou renda não compra, bidu.
O tumulto do dólar começou em junho, mas dominou o trimestre, com picos de perturbação em agosto, quando o BC teve de intervir. O dólar subiu devido ao risco então considerado iminente de mudança na política econômica americana.
Não é muito fácil "explicar" a rateada do investimento pela sensação de crise geral daqueles meses, e foi o investimento que deu uma rateada feia no terceiro trimestre. Mas o tumulto deve ter causado algum dano. De resto, o investimento dera um pulo alto mas passageiro nos trimestres anteriores (devido a caminhões e máquinas agrícolas); não parecia duradouro.
No mais, houve os fatores previsíveis. O consumo dito "das famílias" vem mais fraco desde 2012, pois renda e crédito crescem mais devagar.
O ano que vem está longe, mas os ensaios do teatro econômico de 2014 são fracos. O ano será de algum tumulto nas finanças do mundo, devido às mudanças americanas, com o que o dólar subirá, e subirá aos trancos, para piorar. Tal problema será intensificado pela incerteza (econômica) resultante da eleição presidencial. Mesmo que o Banco Central daqui não continue a elevar a taxa básica de juros, o efeito das altas deste ano vai aparecer mais intensamente em 2014.
Não é preciso mencionar que o desarranjo das contas públicas, a inflação persistente, os preços fora do lugar e o descrédito da política econômica vão nublar o ambiente.
Por vários motivos, pois, os juros subirão na praça daqui. Os custos de produção não vão cair. Não se sabe qual será a política econômica em 2015, seja qual for o candidato eleito. Na melhor das hipóteses, 2015 será um ano de arrumação da política econômica, o que também causa transtorno.
Difícil acreditar que as empresas se animem a investir com tais perspectivas. A gente torce para que o investimento em infraestrutura (das concessões leiloadas) compense em parte o desânimo.
Dado que crédito e renda não devem crescer mais do que em 2013, é difícil esperar um impulso maior do consumo. Talvez o setor externo contribua com uns décimos extras de crescimento, mas não deve ser grande coisa.
Nada está escrito, mas, para que nossa história em 2014 não seja pior que a de 2013, teríamos de contar com uma reviravolta incrível da política econômica de Dilma Rousseff, com uma transição suave nos EUA e com uma surpresa positiva no crescimento mundial. Muita sorte.
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