CORREIO BRAZILIENSE - 13/10
Um passo à frente, dois para trás. A política brasileira não dança conforme toca a banda da democracia. Prefere seguir o ritmo de uma espécie de sinfonia da corrupção e do mau uso dos bens e recursos públicos, uma composição sem ponto final - a cada mandato, soma-se uma, duas ou mais notas que nos enchem de vergonha. Algumas recentes reportagens publicadas pelo Correio somam-se ao enfadonho repertório da política nacional. Duas delas, de autoria do repórter João Valadares, são a prova do descompasso total entre as atitudes dos políticos e o que a população espera deles.
Começamos a semana com a notícia de que a ministra de Relações Institucionais, Ideli Savaltti, usa - ou abusa - de um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal de Santa Catarina, o único na região usado em operações de resgate, para visitar suas bases eleitorais. Sob o pretexto de representar o governo em missões oficiais, a ministra não se acanha em voar à custa do erário, por interesse pessoal e eleitoral, e ainda considera muito normal a prática. O Ministério Público Federal não achou tão óbvia assim a necessidade de uso da aeronave e pediu explicações. Vamos ver se alguma providência será tomada.
Na última quinta-feira, a editoria chefiada por Leonardo Cavalcanti mostrou outra história absurda. Um cartório eleitoral de Águas Claras registrou a ficha de apoio de uma pessoa morta, apresentada pelo Solidariedade. Não foi a primeira vez que o partido idealizado em 2012 pelo deputado Paulinho da Força tentou burlar as regras eleitorais. Na semana anterior, o Correio denunciou história semelhante, no cartório da Asa Norte. Com casos flagrantes de abusos como esses, o Solidariedade está sob investigação da Polícia Federal, a pedido do Ministério Público Eleitoral. Mas há uma pergunta que não se cala nunca no Brasil: e aí, vai dar em alguma coisa?
Tal pergunta é especialmente pertinente num momento em que voltamos a falar sobre um assunto que julgávamos superado: os salários extras no Congresso Nacional. A tentativa de impedir o recolhimento do imposto de renda sobre os benefícios a que nenhum outro trabalhador brasileiro tem direito parece que vingará. Com base na decisão do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), ligado ao Ministério da Fazenda, o Senado quer pedir a devolução dos valores pagos à Receita Federal, que passou a cobrá-los em 2012. O recurso que qualifica os 14º e 15º salários como ajuda de custo e não como salário é de autoria da ação de Ideli Salvatti, a ministra do helicóptero.
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