FOLHA DE SP - 13/10
Aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos traz incógnitas que vão além da redistribuição dos votos na pesquisa eleitoral
Nem sempre o recurso à engenharia genética é condenado pelos ambientalistas. Setores menos radicais da militância ecológica costumam dizer que não são contrários "por princípio" ao cultivo de plantas transgênicas.
Enfatizam invariavelmente, entretanto, que é preciso realizar mais testes científicos, para avaliar o possível impacto desses novos organismos sobre o ecossistema, antes de lançá-los no mercado.
Raciocínio semelhante talvez se aplique às consequências que podem advir da aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos.
Criou-se um organismo transgênico no mundo político, com dois possíveis candidatos, de perfis bastante diversos, convivendo na mesma proveta partidária. Ainda está para ser testado na prática o sucesso dessa composição.
A rigor, não chega a ser um teste prático o resultado da primeira pesquisa eleitoral feita após o surpreendente experimento. Não se sabe por meio de que mecanismo darwiniano será selecionado, no PSB, o nome a liderar a chapa presidencial --ainda que o levantamento do Datafolha deixe entrever alguma resposta à questão.
Na hipótese de Marina Silva não vir a ser candidata, os 26% de votos que obtinha na pesquisa anterior não se transferem para Eduardo Campos de forma integral. O governador pernambucano, que antes conseguia um máximo de 8%, chega a obter 15%. Abaixo de Aécio Neves (21%) ou de José Serra (25%).
A fusão entre Marina e Campos, até por efeito estatístico, também beneficia os tucanos: os votos consagrados à oposição dividem-se entre menos candidatos.
Nessa seara oposicionista, todos encontram motivos para celebrar o levantamento, seja pelo que indica de tendência, seja pelo que mostra de fato consolidado.
O humor não será distinto nos campos petistas. Prossegue mais ou menos estável a avaliação de Dilma Rousseff --somente ameaçada mais seriamente, num segundo turno, por Marina Silva, que alcança 41% dos votos, contra 47% para a atual presidente.
Passados os eventos de junho, o fato é que o governo Dilma recupera terreno: seu pior momento, com 25% de "ruim" e "péssimo", ao lado de 30% de "ótimo" e "bom", dá lugar a índices, respectivamente, de 19% e 38%.
Aécio Neves ou José Serra, Marina Silva ou Eduardo Campos cuidam, enquanto isso, em manter-se à tona no noticiário --mais por movimentações e alianças de bastidores, entretanto, que por atitudes programáticas e éticas capazes de expor, como cabe a toda oposição que se preze, os problemas de um governo ainda entorpecido.
Apesar da tempestade de junho, o manto sonolento do inverno ainda cobre a paisagem sucessória, enquanto incertas sementes mal germinam nas estufas partidárias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário