O Estado de S. Paulo - 13/10
Os aliados Marina Silva e Eduardo Campos têm proclamado com repetida insistência que a aliança das duas forças políticas só vai prosperar, consolidar-se e concretizar-se se conseguirem sustentá-la numa questão de princípio: um jeito novo de fazer política. Segundo Marina, seria inverter este processo gasto, velho e nocivo: "Faz-se aliança eleitoral, ganham-se os governos e depois se inventa um programa". Os dois prometem trabalhar em dar substância e conteúdo à aliança, concordar com um programa único, acertar quem será candidato e anunciar para a população o que pretendem fazer do Brasil se seu projeto for vitorioso nas umas.
Diferentemente da aliança política, que vai exigir sabedoria, coerência, tolerância e paciência dos dois lados para reafirmar tal princípio em ambientes impregnados de métodos velhos e viciados, na economia Marina e Eduardo parecem ter mais convergências do que divergências. Justamente por isso, neste primeiro momento, com a eleição à frente e o PT fazendo tudo para minar a aliança, os temas políticos predominam no cenário dos dois. O maior desafio é fazer penetrar esse "jeito novo de fazer política" na mente de eleitores há anos manipulados e explorados por caciques políticos regionais cujo objetivo é alimentar o atraso político e dele fazer trampolim para seus negócios. Como nacionalmente sua visibilidade é maior, as ideias de Marina para a economia são mais conhecidas. Eduardo só começou a sair de Pernambuco quando decidiu se candidatar e passou a circular entre economistas e empresários fora de seu Estado.
Muito antes de pensar em criar a Rede, Marina Silva sedimenta suas ideias sobre economia em conversas com o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, depois entraram José Eli da Veiga, Ricardo Abramovay e, mais recentemente, André Lara Resende, um tucano descompromissado e movido pelo livre pensar. Deles, Giannetti é quem mais tem falado em nome da Rede. Em recente debate ele observou: "O Brasil arrecada 36% do PIB, gasta 39% e investe apenas 2,5%. O dreno de recursos que o Estado intermedeia e transforma em gasto corrente vai ter de mudar se o Brasil quiser construir um futuro".
Traduzindo: o País precisa gastar menos com a máquina e mais com investimentos/eliminar muitos dos 39 ministérios que Lula e Dilma inflaram para abrigar aliados políticos, perseguir o equilíbrio fiscal, reduzir a dívida pública, investir em educação e capital humano, acabar com o toma lá dá cá dos políticos. "Marina não aceita o presidencialismo de coalizão, lotear o governo de porteira fechada para facilitar o apoio do Congresso, que não se confirma efetivamente no dia a dia", avisa Giannetti. É o tal jeito novo de fazer política. Na última semana, Marina elogiou legados de FHC e Lula: "Vamos preservar e defender a estabilidade econômica de FHC e a inclusão social de Lula". Giannetti tem dito: "Nosso projeto econômico de um futuro governo não é reinventar nada, mas voltar ao que estava dando certo". E estende o que deu certo até a gestão de Antonio Palocci na Fazenda (2006).
De formação liberal e foco no social, Giannetti condena o excesso de intervencionismo do governo na economia, acentuado por Dilma. E Marina: "Foi correto estimular o consumo em 2008. Mas quando o País voltou a crescer, em 2009, o governo deveria ter puxado o freio do intervencionismo". Portanto, os brasileiros esperam dela mais regras horizontais para toda a economia do que isenções fiscais pontuais ou favores de crédito do BNDES a empresas escolhidas, como fez Dilma em excesso.
São temas que Marina vai agora aprofundar com o PSB e seu líder. Quando trocou ideias com economistas tucanos da Casa das Garças, 110 Rio, Eduardo Campos concordou com o que Marina tem defendido. E na macroeconomia os dois também concordam com o tripé meta de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Agrande incógnita, porém, está na defesa do meio ambiente, que deu a Marina respeito e reconhecimento internacional e, no Brasil, a pecha de "radical", que trava o progresso e o desenvolvimento.
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