FOLHA DE SP - 13/10
Finalmente começou a negociação para resolver o impasse orçamentário nos EUA. O confronto atingiu nível perigoso, dada a radicalização sem precedente na política do país. No lado republicano, o avanço da extrema direita trouxe agenda mais conservadora e radical. No democrata, cresceu a força de minorias que querem mais benefícios e oportunidades. É uma tensão histórica, cuja radicalização dificulta o entendimento.
O presidente Barack Obama tinha comparado a situação a um sequestro realizado por delinquentes que exigem resgate para libertar familiares. Disse que o governo não pode aceitar chantagem, para não institucionalizar o procedimento na política.
Os chantagistas, para Obama, seriam deputados republicanos, particularmente os mais radicais. Eles usam a maioria na Câmara para bloquear o aumento da dívida pública, paralisando parcialmente o governo, e forçar negociação com o Executivo, principalmente sobre o novo programa de saúde ("Obamacare").
Já os republicanos acusaram Obama de inflexibilidade insana e de querer impor políticas que, para eles, são irresponsáveis e levariam o país à insolvência.
É importante ressaltar, independentemente da visão política, que, de fato, há um recurso criado pelos fundadores da nação, usado tanto por democratas quanto por republicanos, para dar ao Congresso poder ante o Executivo, forçando em alguns momentos a negociação de temas orçamentários relevantes. Nessa linha, o encontro de Obama com senadores republicanos anteontem pode ser o começo de negociações sérias.
Outro fato encoberto pelo debate radical é que há um teto para a dívida pública só ultrapassável após aprovação do Congresso --mecanismo oriundo da preocupação de todos os setores da sociedade com a saúde das finanças públicas.
Por isso, sempre há um grupo oposicionista lutando pelo controle das despesas do governo e pela austeridade, sejam democratas contra gastos de segurança republicanos, sejam republicanos contra gastos assistenciais democratas. Na gestão de dez anos (1977-87) do famoso presidente da Câmara Tip O'Neill, os democratas usaram 12 vezes o recurso agora usado pelos republicanos.
A conclusão é que há grande valor político na defesa da austeridade. E não só nos EUA, mas em países como Reino Unido, Alemanha e vários outros.
O Brasil pode tirar lição importante disso: é fundamental não só debater o aumento da despesa pública e suas consequências para o país e as próximas gerações, como estabelecer prioridades aos gastos por meio da discussão aberta e transparente, em que a sociedade, ao final, entenda essas questões e as decida pelo voto.
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