FOLHA DE SP - 14/07
Relatório recente do FMI reduziu as estimativas de crescimento para a economia mundial. Já o banco central dos EUA (Fed) agita os mercados ao sinalizar a redução dos estímulos diante da recuperação gradual da economia dos EUA. Nesse contexto de incertezas globais, com perda de dinamismo das economias emergentes, é importante entender o processo de recuperação norte-americana e europeia.
Nos EUA, houve muita preocupação com o corte automático e generalizado de despesas públicas, mas a economia norte-americana cresce, apesar da contração fiscal.
Estaria crescendo mais no curto prazo sem esse corte, mas ele traz mais segurança em relação à solidez fiscal e ao crescimento do país no futuro, reforçando positivamente as expectativas de empresas e consumidores. Outro aspecto importante a notar é o motivo desse dinamismo econômico, centrado na produtividade. Depois da crise, as empresas norte-americanas entraram em processo radical de corte de despesas, mudanças de processos e busca por maiores produtividade e lucro.
Isso gerou a chamada "jobless recovery" (recuperação sem aumento de emprego), fenômeno negativo em si, mas que permitiu ganhos de produtividade que, por sua vez, tornaram-se as molas propulsoras do crescimento e da recuperação sustentável do emprego. O caminho, portanto, é a busca de produtividade com disciplina fiscal, não só ganhos de atividade de curto prazo.
Olhando para a Europa, vemos que a Alemanha segue trajetória de crescimento moderado (mas sólido) e desemprego baixo, resultado também de ganhos de produtividade e de reformas estruturais pós-reunificação do país.
Já Espanha e Portugal ganham competitividade com política de ajuste duríssima, cuja parte mais divulgada e conhecida no Brasil é o ajuste fiscal. A parte menos conhecida, e a mais importante, é o conjunto de ajustes estruturais visando diminuir custos e produzir mais e melhor.
Os países ibéricos ganharam competitividade e, atualmente, começam a exportar de forma inédita na última década. É importante ressaltar, porém, que ainda há caminho a percorrer: o trabalhador alemão médio produz mais de 40 euros por hora, o espanhol, pouco mais de 30, e o Português, 17.
Portugal e Espanha estão, portanto, no caminho da recuperação --da forma mais dura, via redução dos custos nominais, já que sua moeda, o euro, não pode ser desvalorizada na forma clássica.
Apesar de todas as dificuldades ainda existentes, a experiência internacional hoje indica claramente que o caminho do crescimento chama-se investimento e aumento de produtividade, com diminuição de custos públicos e privados.
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