O GLOBO - 14/07
Se o Brasil tivesse cedido ao preconceito ideológico contra o uso de sementes modificadas, hoje não ocuparia mais uma posição de destaque no mercado
O agronegócio no Brasil às vezes é comparado ao “pré-sal” do interior, pelo valor que agrega à economia do país. As dificuldades decorrentes de infraestrutura precária foram compensadas pela combinação de terras disponíveis com avanços tecnológicos que proporcionaram saltos de produtividade expressivos. O agronegócio é o que assegura saldo na balança comercial brasileira, pelo elevado superávit acumulado nas exportações muito superiores às importações. À medida que os investimentos em infraestrutura começarem a apresentar resultados, o Brasil conseguirá conquistar ainda mais mercados para o agronegócio.
A atualização tecnológica é, sem dúvida, o grande desafio do setor. Se o Brasil, há dez anos, tivesse adotado uma postura radical contra o uso de sementes geneticamente modificadas, provavelmente hoje não ocuparia a posição de segundo maior produtor mundial de soja. Cerca de 88% da produção brasileira são de soja transgênica, mais resistente a pragas. Por prudência e estratégia de mercado, o país não abandonou o plantio de sementes convencionais. Com isso, tornou-se também o maior produtor de soja convencional, atendendo um grupo de consumidores que prefere pagar mais por esse tipo do produto.
O uso de sementes geneticamente modificadas foi um dos fatores que contribuíram para o aumento de produtividade. Nem os riscos decorrentes dessa produção se confirmaram, e nem o cultivo de produtos transgênicos resolveu todos os problemas, como se imaginava inicialmente. O plantio de sementes geneticamente modificadas sem abandonar completamente as convencionais vem se mostrando uma boa estratégia.
As preocupações de caráter científico quanto ao uso de sementes transgênicas eram válidas e motivaram a realização de estudos, pesquisas e testes mais meticulosos para se avaliar os riscos, seja para o consumidor, seja para a produção em si. O Brasil foi cauteloso na liberação dessas sementes. No entanto, parte considerável da resistência aos produtos geneticamente modificados tinha mais caráter ideológico, por envolver, no caso, uma grande multinacional do setor. O temor de formação de um monopólio que se voltaria contra os produtores acabou vencido, na prática. O mercado estimulou outras companhias a investirem nessa tecnologia, e nos próximos anos haverá uma oferta diversificada de sementes geneticamente modificadas.
Essa transformação favoreceu também o avanço de outras tecnologias. Assim, já se vislumbra que, até o fim desta década, mais saltos de produtividade ocorrerão. No caso específico da soja, espera-se um avanço na produtividade média no Brasil, de 47 para 67 sacas por hectare. A produção poderá crescer sem que para tal se precise cultivar mais terras. É o ideal, do ponto de vista da preservação do ambiente. O que era visto como inimigo da ecologia, virou aliado.
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