O Estado de S.Paulo - 14/07
Há indicações de que a presidente Dilma Rousseff, fiel ao seu estilo de não dar o braço a torcer, prepara a reforma ministerial em prazo que a desvincule de conselhos recebidos nessa direção.
Não seria assim "coisa nossa", como desejam seus principais aliados, PMDB e PT, mas uma decisão pessoal que preserve a autoridade política da presidente, desidratada pela vertiginosa queda nos seus índices de aprovação.
Como na máxima forjada pela política mineira, nem tão rápido que pareça fuga e nem tão devagar que comprometa a estabilidade do mandato. Certamente aguarda as definições de ministros candidatos a governos estaduais, que deverão ocorrer até setembro, para dissociá-la da crise, e não admiti-la como resultado d a má gestão do governo.
O tempo, nesse caso, conspira menos contra o êxito da mudança ministerial do que as dúvidas que permanecem quanto à requalificação que possa gerar. Tal efeito não se obtém apenas com a troca de nomes, mas com a revisão do modelo personalista que responde, em grande parte, pelo insucesso da gestão.
Em que pese se tratar de um dos piores ministérios dos últimos tempos, a insuficiência da atual equipe é agravada pela falta da mínima autonomia indispensável a qualquer gestor. Um ministério submisso não será, em qualquer tempo, eficiente, e apenas sugere a intolerância à controvérsia interna indispensável ao êxito de um projeto de governo.
Mas, a começar pela dificuldade de se enxergar no governo algum projeto (dele tudo que se sabe é o pronome possessivo "nosso", com o qual o PT o distingue), não se encontra entre seus próprios aliados algum que acredite na possibilidade de a presidente abrir mão do controle obsessivo por tudo o que se passa nos gabinetes ministeriais e de impor seu ponto de vista sobre cada minúcia.
E nem de flexibilizar suas convicções, principalmente as relativas à economia, que a fazem refém de equívocos como o de considerar que a submissão às leis de mercado se traduz em capitulação ideológica e pessoal. E é na economia que reside o principal problema do governo, como indica a anterioridade da inflação como causa da queda nos índices de aprovação.
Perfis à altura do desafio de reacreditar o governo não se disporão a emprestar sua credibilidade e qualidade sem autonomia e, provavelmente, não se orientariam pelo projeto de reeleição que estimula ações populistas.
Antes de consolidar sua candidatura para 2014, a presidente tem que salvar o atual mandato, cujo êxito mínimo é que a credenciará ao próximo. O que impõe priorizar o primeiro e abdicar do segundo - o "nosso projeto" -, como bússola para as decisões do presente.
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