FOLHA DE SP - 09/04
Não há dúvida de que a Câmara dos Deputados errou ao colocar o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM).
Não é que o parlamentar careça de legitimidade. Ele foi eleito democraticamente e parece representar bem o eleitorado que o escolheu. O problema é que presidentes de comissão simbolizam não um grupo específico de eleitores, mas o próprio Parlamento. E, felizmente, a maioria do Congresso ainda parece rejeitar as ideias mais controversas do pastor.
Cabem reparos, porém, à forma como as pessoas que se manifestam contra a presença de Feliciano à frente da CDHM vêm conduzindo os protestos. São legítimos, como as opiniões de Feliciano, ainda que por vezes incivis. Para começar, elas erram ao despejar toda a carga sobre a pessoa do deputado.
Feliciano ali chegou devido a um erro coletivo de partidos e deputados. Por uma série de motivos que não cabe aqui analisar, eles se escusaram à tarefa de fazer uma escolha judiciosa. Vale observar que a mesma crítica se aplica aos deputados condenados pelo Supremo Tribunal Federal, no caso do mensalão, que foram galgados a outras comissões.
Também fica a sensação de que o caso só assumiu as dimensões que tomou porque se tornou um capítulo ruidoso das guerras culturais que opõem os autointitulados progressistas a religiosos. Num certo sentido, essas batalhas existem na sociedade e, por isso, é natural que se reflitam no Parlamento.
É preciso, porém, evitar que degenerem em gritaria -disputa pueril em que cada um dos lados se limita a achincalhar o outro, até o ponto de tornar insuperáveis barreiras já existentes na sociedade e representadas no Legislativo. Seria a negação da política como espaço de solução de conflitos.
A concepção religiosa e conservadora cresce e aparece no país. Melhor reconhecer que ela existe e deve ter seu espaço.
Cabe às forças ditas progressistas, sem tentar impor seus valores a quem deles não comungue, cuidar para que as instituições e leis sejam tão republicanas quanto possível. Agir de outra forma é valer-se da mesma intolerância que, com razão, condenam no adversário.
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