SÃO PAULO - Deu no "New York Times" que até aqueles pescadores que fazem um buraco no gelo e ficam esperando os peixes morderem estão sendo submetidos a exames antidoping. Embora ninguém saiba ao certo se existe alguma droga no arsenal da farmacologia que teria o poder de dar-lhes uma "ajuda indevida", as autoridades esportivas dos EUA já estão em seu encalço.
E não é só a pesca sobre o gelo. Praticantes de xadrez, dardo de botequim, minigolfe, cabo de guerra e outros esportes com ambições olímpicas também já se colocaram na mira da Wada, a agência mundial antidoping. A pergunta é: isso tem lógica?
John Hoberman tenta respondê-la em seu "Testosterone Dreams" (sonhos de testosterona), em que traça um amplo panorama histórico da utilização de hormônios e outras drogas para melhorar a performance nos mais variados ramos de atividade, da cama aos esportes. A obra, que é de 2006, não pega os últimos desenvolvimentos da corrida armamentista entre a Wada e a indústria farmacêutica, mas descreve bem a essência da discussão, que passa por definir para que serve a medicina.
Para Hoberman, existem dois modelos. No primeiro, cabe ao médico preservar ou restaurar funções normais do organismo que foram perdidas. O pressuposto é o de que existem limites para o corpo e a mente com os quais não convém mexer.
Já no segundo modelo, que encerra uma concepção mais libertária da medicina, é o próprio paciente, orientado pelo médico, que define quais problemas devem ser considerados "doença" e quais intervenções contam como "tratamento".
O problema é que, enquanto todo o mundo pende para a segunda opção, como o atesta o uso cada vez mais disseminado de drogas performáticas como Prozac (modula o humor), Ritalina (aumenta a atenção) e Viagra (melhora vocês sabem o que), o esporte se obstina no primeiro modelo. Por quanto tempo resistirão?
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