Aqueles que, como eu, até hoje lamentam e choram o fim da legendária boate Help, na Avenida Atlântica, já tem um consolo. Pra quem não lembra, a mitológica boate de alta rotatividade Help foi, durante anos, um dos maiores centros de difusão de cultura, turismo e doenças venéreas da cidade e acabou fechada pela caretice conservadora dos fiscais da Vigilância Sanitária. Mas eis que surge na orla um novo point que promete resgatar os verdadeiros valores cariocas. Valores que hoje estão na casa de “a compreta é 100 real!”. É claro que estou falando do “Bitch Club”, a área VIP (Very Importante Piranhas) que fica encravado dentro do histórico Forte de Copacabana. É impressionante como o carioca é obcecado por áreas VIPs, esse viveiros de artistas, celebridades e famosos que se amontoam num cercadinho. Nosso povo faz qualquer coisa por um crachá ou uma pulseirinha colorida que dá direito a entrar nestes antros de lazer e em algumas mulheres.
Curioso por profissão, deixei de pagar esse mês o plano de saúde da Isaura,a minha patroa, para comprar um ingresso nesta reserva ecológicas, habitat de duas espécies que estão ameaçadas de extinção: os milionários e as piranhas. E eu que pensava que piranha só dava em rio. Nada disso: as piranhas também habitam o litoral e, em especial, o “Bitch Club”. Para causar sensação e dizer logo que eu não estava ali à passeio, cheguei no lugar vestindo uma sunga de crochê que o Gabeira me deu. A mulherada ficou louca ao ver a protuberância da minha carteira e do meu “18 do Forte” e, imediatamente, as vorazes profissionais de água doce caíram matando em cima da minha pessoa.
Apavorado, busquei refúgio no camarote de um milionário paulista desses que fazem a alegria das agências de publicidade. Para minha surpresa, adentrei naquela chiqueirinho exclusivo e deparei-me com mordomias que deixariam o Sarney morto de inveja. O que, aliás, não é má idéia... Em seguida, um mordomo de libré, customizado, me cedeu um felpudo roupão de algodão egípcio com as minhas iniciais, A.M.P., bordadas em fios de ouro. Ato contínuo, o solícito serviçal abriu uma garrafa de champagne, uma Dom Perignon 95, mais gelada que a Isaura,a minha patroa. Quando é que um modesto e mal remunerado jornalista como eu teria a oportunidade rara de sorver aquele precioso néctar dos vinhedos franceses? Nem na Ilha de Caras. Por falar em Caras, soube de fonte segura que o atual ex-papa Bento XVI cm, deprimido com os escândalos do Vaticano, vai para o Castelo de Caras, onde todas as pessoas entram com depressão e saem na capa da semana seguinte felizes e sorridentes.
Mas voltando às vacas frias do Bitch Club: ao constatar o meu estado de stress emocional, causado pelo ataque das garotas de programa carnívoras, o subserviente lacaio me levou até a sala de massagem. De repente, vi-me introduzido num misterioso ambiente oriental fedendo à incenso onde uma amassoterapeuta me aplicou uma vigorosa massagem tântrica com direito à happy end no final.
Revigorado, senti-me cheio de energia, talvez devido ao fio terra que experimentei naquela terapeia alternativa. Com a libido latejante, não tive dúvidas: agradeci ao milionário e peguei uma van até o centro. O centro da Isaura, a minha patroa. Lá onde o sol não bate, aproveitei para colocar em dia a nossa vida sexual que, aliás, andava mais atrasada que a conta de luz aqui de casa.
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Se as caravelas de Cabral não tivessem aportado em Porto Seguro mas no Beach Club em Copacabana, o cronista Pero Vaz de Caminha, impressionado com a exuberância das nativas, teria escrito em sua carta “ aqui, em se pagando, todas dão!”
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