BRASIL ECONÔMICO - 22/02
Um dos hábitos que impedem a compreensão do que acontece com a economia brasileira é a mania de olhar o mercado assim como se compra carne de boi no açougue.
Quem quer o contrafilé nem olha para a picanha - e ponto final. Com a economia, os fenômenos são observados mais ou menos da mesma forma, sem que se perceba a relação que existe entre um e outro.
Anteontem, por exemplo, o Banco Central divulgou sua previsão para os números finais do PIB de 2012. Segundo o BC, a economia cresceu cerca de 1,64% no ano passado.
Por diferença metodológica, o número será um pouco maior do que os dados oficiais do PIB, que o IBGE divulgará nas próximas semanas e que deverão ficar entre 0,9% e 1,1%. Onde está o esquartejamento?
Bem, a questão é que pouca gente se lembrou do PIB ao comentar, ontem, o lucro recorde do Banco do Brasil no ano passado. O BB, como se sabe, foi o principal agente do esforço governamental de estimular a economia por meio da redução das taxas de juros. Seu lucro, em 2012, foi de R$ 12,2 bilhões, um número ligeiramente maior do que o de 2011. O que uma coisa tem a ver com a outra? Tudo.
Em primeiro lugar, o lucro do BB teve uma alta discreta em relação ao ano anterior num exercício em que todos os outros grandes bancos brasileiros tiveram ganhos menores do que os de 2011. E a principal explicação para esse aumento foi a expansão do crédito, de acordo com a orientação do governo.
Em outras palavras, se o Banco do Brasil tivesse feito exatamente o que os outros fizeram, teria lucrado menos e seus acionistas (não apenas o governo, mas também os acionistas minoritários) poderiam ter saído perdendo.
Além disso, o PIB medido pelo BC (que só cresceu 1,64% porque o consumo expandiu) teria sido menor. Isso se não andasse para trás, como aconteceu pelo mundo afora em 2012. Em outras palavras, o lucro do BB tem uma ligação umbilical com o PIB medido pelo BC. E vice-versa.
O movimento do governo foi correto, sob o ponto de vista político, e perfeitamente dentro do que estabelecem os manuais de economia. A prova disso foi que o BB não perdeu dinheiro. Ao contrário, ganhou.
O ministro Guido Mantega utilizou a posição de liderança de um banco sob seu controle com instrumento de política econômica. Errado seria se visse a economia andar para trás sem tomar uma providência para evitar o pior.
Na medida em que, no ano passado, emprestou mais dinheiro do que em 2012, o banco oficial deu uma orientação clara ao mercado. O remédio foi eficaz. O problema é que essa ferramenta não é capaz de produzir um efeito duradouro.
Quem compra um carro este ano dificilmente comprará outro no ano que vem. O mesmo vale para TV, fogão e geladeira. A solução para um crescimento mais robusto e continuado do PIB é estrutural. Mas para isso, infelizmente, o governo não tem demonstrado a mesmo eficiência que mostra diante das questões pontuais.
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