FOLHA DE SP - 22/02
SÃO PAULO - É comovente a tentativa de Marina Silva e seus associados de lançar um partido diferente, que aliaria os padrões éticos do PT de outrora com uma agenda pró-sustentabilidade nos moldes dos PVs europeus, mas me reservo o direito de manter o ceticismo em relação ao sucesso da empreitada.
Minha primeira impressão é que os fundadores ainda não têm clareza se querem uma legenda que entre para jogar o jogo normal da política ou uma que corra por fora, apoiado numa espécie de bom-mocismo diáfano, que extrairia sua força, não de cargos, mas de uma suposta superioridade ética de seus membros.
A ambiguidade fica patente na diretriz do protopartido de não aceitar doações que venham de fabricantes de bebidas alcoólicas, cigarros, armas e agrotóxicos. Muito bacana, mas, como bem observou o Fernando Rodrigues, cadê as empreiteiras? Se a ideia é distanciar-se da corrupção, fica complicado aceitar dinheiro das grandes construtoras, que já se envolveram em tantos escândalos, e recusar o de cervejarias e mesmo de vinícolas orgânicas.
E será que não exageram no fogo contra os agrotóxicos? Há quem os chame de defensivos agrícolas e é bom lembrar que, sem esses produtos, não haveria meio de alimentar os cerca de 7 bilhões de humanos que, hoje, vivem no planeta. Alguma proposta de como reduzir esse número?
Se os neoverdes quisessem, poderiam ter contornado o problema. Bastava proibir todas as doações de empresas, aceitando apenas contribuições de pessoas físicas nos limites preconizados pela legislação. Se fizessem isso, porém, condenariam o partido a seguir a via alternativa, já que experimentariam dificuldades na maioria das campanhas. Esse caminho é arriscado, como sabemos todos depois do que ocorreu com o PT. Mas a aposta na ambiguidade deixa a suspeita de que a pureza da nova sigla está mais associada ao marketing do que a convicções.
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