Serão seis meses de inflação elevada. A expectativa, no governo, é que o IPCA acumulado em 12 meses fique acima de 6% durante todo esse período. Não há, por outro lado, qualquer garantia de que o índice estará contido no teto da meta, de 6,5% nesses meses. A taxa só cairá no segundo semestre do ano, segundo os prognósticos do governo. Mas também não há convicção de que, tendo encostado, ou mesmo vazado, o teto da meta, a inflação voltará naturalmente para um patamar mais razoável, algo na casa dos 5,5% ainda este ano.
A incerteza gerada pela dinâmica desconfortável da inflação e o risco de ela não ser, ao menos, inferior aos 5,84% do ano passado - único compromisso assumido este ano pelo BC - levou o governo, especialmente a autoridade monetária, a subir o tom de voz nas duas últimas semanas.
Falar grosso, porém, pode não ser suficiente para domar as expectativas inflacionárias, tarefa em que o BC não tem tido sucesso. As expectativas dos agentes econômicos estão descoladas da meta oficial há três anos; e o grau atual de disseminação dos aumentos de preços na economia só não é pior do que em março de 2003, início do primeiro mandato de Lula. Naquele mês daquele ano, em que a inflação projetada era de dois dígitos, o índice de difusão chegou a 77%. Hoje, é de 75%.
O governo está contando com uma queda importante da inflação de alimentos que, nos últimos cinco anos, esteve encostada na média de 10% ao ano. Arrisca prever que o aumento dos preços dos alimentos e bebidas, que foi de 9,86% em 2012, pode cair pela metade e ficar ao redor de 5% em 2013. Mas não há muita esperança no recuo da inflação de serviços, que mostra resistência, situando-se na média de 8% ao ano, alimentada pelo aumento da renda e pelo baixo desemprego.
A desvalorização da taxa de câmbio, que pesou bastante na inflação do ano passado, não esgotou totalmente seus efeitos. Embora o maior impacto ocorra nos primeiros seis meses, segundo economistas do governo, ainda teria um restinho de depreciação cambial para encorpar os preços até meados do ano. Dos 5,84% de variação do IPCA em 2012, há quem dimensione em cerca de 0,80 ponto percentual a contribuição da taxa de câmbio e estime em mais 0,2 ponto percentual o impacto sobre o índice no primeiro semestre de 2013.
A valorização recente do real frente ao dólar só começaria a trazer algum ganho para moderar os aumentos de preços no segundo semestre deste ano. A contribuição da apreciação cambial de janeiro para cá sobre a inflação tenderia a ser, portanto, quase neutra, segundo economistas oficiais.
Não está claro onde a valorização do real vai parar. O BC conta com um comportamento mais moderado do que o que ocorreu nos últimos 15 meses. O mercado, mesmo com fluxos de capitais negativo, testa a autoridade monetária para encontrar eventual piso para a cotação do dólar frente ao real.
Há, admitem operadores, um claro movimento especulativo nesse sentido, estimulado pela assimetria na banda cambial, com o pico na faixa de R$ 2,02 e o vale indefinido. Uma situação que fornece munição para apostas na apreciação da moeda. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem dito que as oscilações da cotação do dólar ao redor da média dos últimos sete meses seria uma flutuação confortável, mas não se compromete com números. Apenas a título de ilustração, essa média é de R$ 2,0362.
O risco de colocar tudo a perder, deixando solto o processo inflacionário, não é desprezível e o governo se convenceu disso. O presidente do BC, Alexandre Tombini, primeiro desinflou as expectativas de aumento da desvalorização cambial e, nas duas últimas semanas, veio a público avisar que não está de mãos atadas com os juros e que vai, sim, usar a Selic para domar os preços, se isso for necessário.
As dúvidas, agora, são se ele considera que já é necessário, quando começará a apertar a política monetária e em que intensidade pretende fazê-lo.
Os esforços do governo para melhorar a percepção dos agentes econômicos não produziram, por enquanto, qualquer efeito. O risco país, medido pelo Credit Default Swap (CDS), está em franca ascensão e se distancia da performance de outros países emergentes.
O CDS é um contrato de derivativo que dá ao seu comprador uma espécie de "seguro" contra um eventual calote do país. Neste ano, até ontem, o risco soberano do Brasil aumentou em 17,59% e está em 127 pontos-base. Para outros países também está subindo, mas menos e sobre um nível menor. O do México está em 101,57 e aumentou 4,7%; o da Colômbia é de 100 pontos e cresceu 4,03%; o do Peru estava em queda, mas ontem subiu para 98, com elevação no ano de 1,89%. O da Turquia, que esteve em queda, subiu para 140 pontos, aumento de 6,84%. Já o risco soberano da Austrália é de apenas 43,8 pontos-base e, de janeiro até ontem, caiu 6,45%.
Para operadores e analistas de grandes fundos estrangeiros, esse indicador é mais um elemento da "decepção" dos investidores com o Brasil, em seus aspectos macro e microeconômicos. Das idas e vindas da política econômica doméstica às idas e vindas regulatórias.
Nem todos os analistas atribuem muita importância aos CDS, por sua baixa liquidez, e preferem olhar o comportamento da bolsa de valores. A relação entre um e outro, no entanto, é bastante estreita e inversamente proporcional. Se o risco aumenta, a bolsa cai e vice-versa. O risco-país, no caso, só sobe e o desempenho da Bovespa é sofrível.
Com a ameaça do Fed elevar a taxa de juros, a tendência será de um deslocamento importante do dinheiro no mundo para o mercado americano.
A crise de 2008 e o consequente colapso das economias maduras começa a mostrar exaustão, a economia americana dá indícios de alguma recuperação e a situação na Europa se acalmou. O Brasil, nesse tempo, avançou pouco. Encontra-se envolvido em baixo crescimento, alta inflação e quase nenhum investimento.
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