O GLOBO - 22/02
O clima de campanha eleitoral já havia aparecido no pronunciamento da presidente Dilma, no final de janeiro, para anunciar a efetiva redução da conta de luz. Sobraram estocadas para a oposição, numa prévia de 2014.
O calendário do ano que vem foi definitivamente antecipado, nesta semana, com a festa pelos 10 anos do PT no poder, usada para confirmar a aposta do partido na reeleição de Dilma, no mesmo dia em que o senador tucano mineiro Aécio Neves, considerado o nome da oposição para enfrentar PT e aliados em 2014, subiu à tribuna, em Brasília, para responder a críticas ao governo FH.
Pouco antes, a presidente Dilma aproveitara a solenidade de anúncio da ampliação do Bolsa Família para atacar os “conservadores”, sinônimo de tucanos na linguagem do debate político dos últimos anos.
O próprio aumento do benefício do BF tem claro propósito eleitoral, pois permitirá ao governo provar estatisticamente que acabou com a miséria absoluta, definida pela renda mensal de até R$ 70. Com o aumento do benefício para acima desta faixa, a miséria será varrida das cartilhas oficiais, fato a ser trombeteado como só o PT sabe fazer.
A brochura preparada para o evento de quarta à noite em São Paulo, a fim de comemorar a década do PT no poder, os 33 anos do partido e o lançamento da recandidatura de Dilma, sob o título de “O decênio que mudou o Brasil”, tem todas as características de peça político-eleitoral. Esconde os pontos negativos, enaltece os positivos. Dele não consta, é claro, o mensalão.
Aécio, saindo de um longo período de letargia — assim como toda a oposição —, mirou nos visíveis pontos fracos do governo Dilma e da Era PT na política econômica: inflação em alta, PIB sem vigor, maquiagem nas contas públicas, desmantelamento da Petrobras, entre outros flancos a descoberto da gestão petista. O senador e pré-candidato informal à Presidência da República listou “13 fracassos” da década petista, entre eles as graves derrapagens do partido num terreno em que parecia imbatível, o da ética.
Os embates desta semana servem de prévia do que virá por aí. Mas não pode ser esquecido — muito pelo contrário — que até chegar o período oficial de campanha há muito tempo pela frente. A pior das possibilidades é o choque eleitoral precoce paralisar um Congresso já com déficit de desempenho. E/ou acirrar tanto os ânimos que assuntos consensuais, favoráveis ao aperfeiçoamento da economia, passem a tramitar com dificuldade no Legislativo.
A presidente Dilma parece, enfim, ter entendido que o esgotamento do modelo de crescimento via consumo força o governo a destravar de uma vez os investimentos — públicos e privados. Esta precisa ser uma questão suprapartidária, à margem dos desentendimentos eleitorais.
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