O GLOBO - 22/02
No pronunciamento do senador petista Lindbergh Farias para rebater o discurso do senador Aécio Neves na quarta-feira, encontra-se uma pista muito nítida do que será a disputa retórica nas próximas campanhas eleitorais, nas estaduais e, sobretudo, na de presidente da República. O petista chegou ao plenário em meio ao discurso do tucano, mas tinha assessores designados para contar quantas vezes Aécio pronunciara palavras-símbolo como "povo", "gente", "miséria".
Não encontrando menção alguma, Lindbergh sentiu-se em condições de determinar, com um sorriso irônico, que o provável candidato oposicionista não estava montando "um discurso competitivo" contra o PT. Ontem, o rescaldo do debate por parte da ampla rede social que os petistas montaram tentou restringir a repercussão à suposta vitória de Lindbergh sobre Aécio.
Lembram-se do servidor da Secretaria Geral da Presidência Ricardo Augusto Poppi Martins, coordenador de Novas Mídias e Outras Linguagens de Participação, que participou da reunião na embaixada de Cuba onde foram armadas as manifestações contra a blogueira cubana Yoani Sánchez e depois foi para Havana participar de um seminário sobre "ciberguerra"? Pois deve ser essa a sua função, coordenar as reações nas novas mídias, para tentar comandar o noticiário. Reclamar que a palavra "povo" não foi pronunciada no discurso oposicionista é tentar ressaltar uma característica supostamente elitista dos tucanos, o adversário que o PT identifica como aquele a ser batido desde já. Nesse episódio, a resposta foi relativamente fácil e não foi possível aos petistas alardear uma vitória política, a não ser nos blogs a serviço do governo.
Mesmo assim, trata-se de uma "vitória" inócua, pois esses blogs só alcançam mesmo os já convertidos, pela própria característica de serem chapas-brancas. Afinal, no plenário do Senado, ainda é possível tratar de temas importantes sem fazer proselitismo ou demagogia, e aquele plenário deveria ser usado para um amplo debate sobre os temas nacionais. Falar sobre o perigo da inflação, que corrói mais depressa a renda dos menos favorecidos, é falar de "povo", de "gente".
Mas a oposição, se quiser ter chance nos embates públicos na campanha presidencial, terá de usar uma linguagem mais popular para levar sua mensagem ao cidadão que decide a eleição. A democracia de massas exige do político comunicação mais direta, e nisso Lula sempre foi um craque, mesmo quando derrotado por Collor ou por Fernando Henrique.
Em 1989, ele foi vencido com suas próprias armas por um político populista, que usou e abusou da mistificação e de golpes baixos para superar aquele líder operário que começava a surgir na cena nacional. Mesmo assim, Lula ainda foi para o segundo turno e quase ganhou a eleição. Contra o PSDB, tanto em 1994 como em 1998, o PT foi amplamente derrotado no primeiro turno por FH, que trazia, para contrabalançar a demagogia lulista, uma realidade que fez bem ao país e, sobretudo, ao bolso dos mais necessitados: o Plano Real, que acabou com a hiperinflação.
Na eleição de 2002, Lula venceu porque a economia ia mal no segundo governo tucano, e o candidato petista vendeu ilusões ao eleitor que não teve condições de entregar. Eleito, manteve pelos primeiros anos não apenas a política econômica tucana, mas uma equipe toda comandada por economistas e burocratas ligados ao PSDB. Ironicamente, boa parte, portanto, destes dez anos petistas no poder teria por justiça que ser dividida com o PSDB e seus "neoliberais".
Cabe à oposição encontrar a melhor linguagem para se contrapor a um governo que tem uma ampla máquina de poder montada e uma tradição de luta política que não tem escrúpulos, nem políticos e muito menos retóricos, para manter o poder conquistado. A campanha contra as privatizações é apenas um exemplo óbvio de manipulação de sentimentos nacionalistas do cidadão comum, mesmo quando os benefícios são evidentes e o próprio PT privatiza quando precisa. A presidente Dilma Rousseff não tem o dom da palavra fácil, mas terá Lula em seu palanque. Os tucanos precisarão encontrar sua linguagem de aproximação com o dia a dia do eleitor.
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