FOLHA DE SP - 22/02
Movimentações partidárias indicam competição mais acirrada no pleito de 2014, o que pode ser bom -se não degenerar em sectarismo
Esta semana marcou a abertura explícita das transações partidárias rumo à disputa presidencial de 2014. Os primeiros passos indicam que a presidente Dilma Rousseff será mesmo o nome do PT -e que sua reeleição não será exatamente um passeio.
Movimentam-se para confrontá-la, há tempos, dois políticos competitivos: o senador Aécio Neves (PSDB) e a ex-ministra Marina Silva -que corre para lançar sua Rede até outubro e, assim, habilitar-se.
Também se pôs em prontidão um quarto elemento interessado na disputa, Eduardo Campos (PSB). O governador de Pernambuco teria o desafio de concorrer numa penumbrosa faixa entre situação e oposição -seu partido compõe a coalizão de apoio à administração de Dilma, e Campos mantém ligação estreita com o ex-presidente Lula.
A experiência de mais de dois séculos com reeleições nos EUA corrobora a tendência observada na curta vigência do sistema no Brasil. A regra é o presidente obter o segundo mandato, mas quadros econômicos desfavoráveis e desgaste político do governante de turno ajudam a explicar as exceções.
Apesar da frente fria que ronda o desempenho do PIB, na primeira metade do governo Dilma, a sensação de aquecimento -principalmente no mercado de trabalho e no consumo popular- lhe é favorável. A confirmar-se, a discreta elevação na temperatura da economia prevista para 2013 e 2014 será suficiente para manter a excelente trajetória do emprego e do salário.
Diante da elevada popularidade presidencial e da arrebatadora capacidade de cooptação do Planalto, deveria haver poucos candidatos competitivos para 2014. Não é isso o que vai se configurando.
Estará em curso mudança em favor de um nome avesso às práticas usuais da política, embora ainda carente de substância programática, como Marina Silva? Abre-se oportunidade para um governador do Nordeste, Eduardo Campos, quebrar a série de cinco vitórias de políticos baseados nas regiões mais ricas do país? O anunciado fim da hegemonia paulista no PSDB dará repercussão nacional à ainda acanhada candidatura do mineiro Aécio Neves?
Especulações à parte, o fato é que a geografia do voto, na hipótese de figurarem esses quatro candidatos na cédula, tende a ser diferente em 2014. Nos três pleitos até 2010, foram decisivos para as vitórias de Lula e Dilma os votos acumulados em Minas e no Nordeste.
Com Aécio e Campos na disputa, ficará difícil repetir esse padrão. Marina, por seu turno, revelou-se competitiva entre camadas médias dos grandes centros urbanos.
Um processo eleitoral mais disputado será bom para o país, desde que privilegie o debate de ideias, currículos, programas e uma avaliação objetiva da gestão de Dilma.
Se vingarem os sinais recentes do partido da presidente, contudo, o embate será travado no campo do sectarismo truculento -como ficou patente nas agressões à repórter Daniela Lima, da Folha, e à blogueira cubana Yoani Sánchez.
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