FOLHA DE SP - 22/02
RIO DE JANEIRO - Nos anos 70, ao ouvir que o McDonald's acabara de inaugurar sua primeira loja em Tóquio, o linguista nipo-americano S. I. Hayakawa comentou: "Que terrível vingança por Pearl Harbor!". Queria dizer que a delicada dieta japonesa sofreria muito mais com a penetração da "junk food" do que a base americana no Havaí com o ataque dos aviões e navios do Japão em 1941. Afinal, o bombardeio de Pearl Harbor só durou uma manhã. O do McDonald's seria para sempre.
O uso de comida ou bebida para fins de dominação é conhecido. Vide a visita do presidente Richard Nixon à China de Mao Tse-tung, em 1972. Os EUA passaram a vender Pepsi-Cola aos chineses, e o que aconteceu? Assim que começaram a tomar a gororoba pelo canudinho, os jovens chineses nunca mais quiseram saber da Revolução Cultural.
A comida pode ser também uma arma secreta, e não é de hoje. No século 16, os soldados espanhóis no México foram amistosamente recebidos pelos astecas e comeram do bom e do melhor. Em troca, mataram o imperador Montezuma e tomaram conta do pedaço. Mas pagaram caro. A comida dos astecas provocou-lhes uma tal diarreia que, até hoje, qualquer infecção intestinal em viagem, não importa onde, tornou-se "a vingança de Montezuma".
Pois, durante séculos, o Brasil viveu de vender açúcar e café no mercado externo, leia-se EUA. O fato de a economia nacional depender de produtos tão singelos, feitos para o café da manhã ou para a sobremesa, era até simbólico. Significava que o Brasil não participava do grande banquete internacional.
Bem, as coisas mudaram. Hoje, esse banquete consiste justamente na "junk food": hambúrguer, batata frita, mostarda, ketchup, cerveja. Bilhões de pessoas passam a isso todos os dias. E são empresários brasileiros que estão abocanhando, engolindo e tomando esse mercado.
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