CORREIO BRAZILIENSE - 04\11
Com 2014 na pauta de todos os partidos, muitos se ouvirá daqui para frente em termos de conversas e perspectivas de aliança. Esta é a fase do “ninguém é de ninguém” e todo mundo flerta com todo mundo no sentido de buscar afinidades e, se der certo, uma parceria futura. E todas essas conversas são mais do que naturais, diante dos problemas pelos quais passa a antiga cúpula do PT no Supremo Tribunal Federal (STF), a Ação Penal 470, que já vem sendo chamado de o mais doloroso julgamento da história política brasileira.
No cenário político como um todo, não é segredo para ninguém a dificuldade de convivência que os partidos aliados têm com o PT. Dia sim, dia não, os aliados reclamam da falta de espaço de poder, incluída aí a resistência dos petistas em apoiar candidaturas que não sejam da sua própria legenda.
Nesse cenário, a sensação que muitos têm hoje é a de que o PT não apoiará ninguém para presidente da República, nem em 2018 e nem nunca. E todos os partidos, de um jeito ou de outro, sonham em ocupar o Palácio do Planalto. Daí, não será surpresa se, daqui para frente — nessa linha de todo mundo conversa com todo mundo — vierem alguns ensaios de caminhos alternativos já para 2014, de forma a criar algo mais sólido fora do PT, nem que seja para chegar lá em 2018 com algo mais sólido contra os petistas. E aqui destaco a palavra “ensaios” porque nada do que se discute hoje pode ser considerado líquido e certo para 2014. Talvez não o seja para o fim do ano, quando estiver em jogo a Presidência da Câmara e a do Senado.
Esse pacote de ensaios incluirá a partir deste mês a discussão do pacto federativo, citado tanto pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) quanto pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Ambos batem na tecla descentralização dos recursos da União como forma de resolver os problemas nacionais. E assim eles esperam obter não apenas voz, mas angariar apoios pelo país afora. Afinal, são os governadores e os prefeitos que hoje estão mais próximos do contribuinte para resolver o dia a dia do inquilino do Palácio do Planalto, seja ele quem for. Portanto, nada mais natural do que prefeitos e governadores acompanhem os dois na defesa da redistribuição dos recursos.
O problema é que a discussão de um novo pacto federativo, vindo de dois personagens considerados protagonistas para 2014, soará ao PT como uma tentativa de enfraquecer o partido de Lula e Dilma para a próxima disputa. Daí, que ninguém se surpreenda se houver resistência. Aliás, não é a primeira vez — e certamente não será a última — que o pacto federativo entra em pauta. Em 1994, quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente da República, o então coordenador do seu programa de governo, Paulo Renato Souza, já falecido, planejava dar a largada à discussão das reformas estruturais justamente redistribuindo as receitas e as atribuições entre estados e municípios. E, de quebra, reformar também a Previdência Social.
Naquela época, o pacto fracassou. O então PFL e uma parte do PSDB consideraram mais fácil cuidar primeiro de aliviar o tamanho do estado e a pauta que prevaleceu nas reformas estruturantes foi a da privatização da telefonia, de parte da navegação de cabotagem e a quebra do monopólio do petróleo. E assim foi feito. A reforma da Previdência ficou pela metade. O pacto federativo, que havia sido tentado antes no governo Sarney, também “sobrou”. Se vai dar certo agora, ninguém garante, mas certamente será um mote para unir Aécio Neves e Eduardo Campos nesse período em que, conforme já dito aqui, todo mundo vai conversar com todo mundo, mas quem vai decidir mesmo o desenho será a circunstância política lá na frente. E, deste exato momento até onde a vista alcança, essas circunstâncias ainda não estão à mostra. Nem no plano nacional e nem no Distrito Federal. Até rimou!
Por falar em governo…
Enquanto Aécio e Eduardo discutem seus pactos, a equipe da presidente Dilma Rousseff acompanha com uma lupa as pesquisas de avaliação do governo federal, especialmente nesses últimos dias, em que o país sofreu um apagão no Nordeste. Afinal, ela tem claro que se o eleitor continuar aprovando o governo da presidente, não perderá a condição de favorita. E, nesse caso, talvez não perca nem aliados. O problema é que, apesar do otimismo dos dilmistas, há quem diga que se as conversas de todo mundo com todo mundo andarem mais um pouquinho sem a interferência de Dilma, talvez quando ela decidir entrar nesse campo já seja tarde mais para segurar esses aliados. Vamos acompanhar.
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