domingo, novembro 04, 2012

A fragilidade do PIB - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 04\11



O maior sucesso da política econômica do governo Dilma é a derrubada dos juros básicos (Selic), hoje de 7,25% ao ano - níveis jamais antes alcançados na história recente do País.

Em contrapartida, o maior fracasso até aqui é sua incapacidade de entregar um avanço do PIB mais próximo do prometido. Em 2011, o objetivo inicial era um crescimento de 5,0% e o alcançado foi de apenas 2,7%. Em 2012, a expectativa era um avanço de 4,5%, mas, provavelmente, ficará abaixo de 1,5%. Para 2013, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reforça suas apostas nos 4,5%. No entanto, dois meses antes do início do ano, as primeiras análises advertem que muito dificilmente passará dos 3,0%.

Um tanto timidamente, as primeiras reações do governo para essas projeções, que considera pessimistas demais, são de que estão em curso mudanças estruturais de grande importância na economia, o que pede mais paciência com os resultados. Apesar da demora, a retomada virá com força, advertem. É esperar alguns meses mais para conferir...

Para o governo Dilma, além da derrubada dos juros nas aplicações das reservas bancárias (Selic) e nos financiamentos para empresas e pessoas físicas, as mudanças estruturais contam com três fatores: com a ascensão de pelo menos 40 milhões de pessoas aos padrões de consumo das classes médias; com a desvalorização do real em relação ao dólar, em torno de 20% sobre as posições de fevereiro deste ano; e com o desenvolvimento do crédito, que saltou dos 45% do PIB em 2010 para os atuais 51,5% do PIB.

O problema é que esses resultados não estão chegando e ainda vão dificultando outros objetivos. Nem estão contendo a desidratação da indústria nem estimulam os investimentos na economia. E essas são as principais razões da fraqueza do crescimento econômico. Também o governo Dilma vai caindo na armadilha desenxabida do stop and go.

Não está descartado um crescimento do PIB de ao menos 3% em 2013. O problema é sustentar esse ritmo. Para que a economia pudesse caminhar nesse patamar, os investimentos teriam de saltar dos atuais 19% do PIB (17% provenientes da poupança interna; e mais 2%, de estrangeiros) para acima de 22% ao ano.

Em outras palavras, a grande mudança estrutural requerida para garantir bom crescimento permanente ainda está à espera de políticas que estimulem a poupança. E, no entanto, o governo Dilma faz exatamente o contrário. Incentiva o consumo, como se daí dependesse a manutenção do bom nível de emprego e o avanço econômico sustentado.

Este é o momento em que as classes médias - as mais antigas e as mais recentes - começam a sentir o impacto da queda dos juros sobre o patrimônio familiar e sobre a sustentação do seu futuro. É o momento da tomada de consciência de que, no nível atual de juros reais, de 2% ao ano, as retiradas financeiras futuras com que contavam a título de complementação da aposentadoria provavelmente não acontecerão.

O melhor passo que poderia ser dado para a expansão da poupança nacional seria a instituição de um forte programa de previdência complementar.

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