O Estado de S.Paulo - 04\11
Os votos das eleições municipais ainda estavam sendo apurados quando um político, que além de governista é ministro, em conversa reservada chamou atenção para o detalhe: "Vocês (jornalistas) não estão percebendo a jogada".
Ele se referia ao noticiário sobre a possível candidatura à Presidência da República do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, saudado como liderança emergente na política nacional.
O ministro falava mais especificamente da leitura que se faz do afastamento de Campos do ex-presidente Lula e seu provável alinhamento ao campo da oposição mais adiante, se a economia e os humores do eleitorado criarem dificuldades para a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, não é assim que o panorama é visto em algumas rodas de governo.
Nelas se conversa o seguinte: Lula estaria adorando e de alguma maneira até incentivando os festejos em torno de Eduardo Campos.
Quem conhece bem os anseios e o modo de agir do ex-presidente aposta que o plano dele é realmente tentar voltar ao Palácio do Planalto em 2014.
A primazia é a recandidatura de Dilma que Lula, no entanto, não teria dificuldade de afastar. Mas, ponderam os analistas palacianos, faria isso muito melhor se tivesse uma boa justificativa. É aí que entra em cena o fortalecimento da figura do governador. Quanto mais viável ele se apresentar como alternativa ao campo governista, mais argumentos Lula e o PT terão para alegar que só a volta do ex-presidente seria capaz de assegurar a vitória e a preservação do projeto de poder.
Nesse caso, consideram aqueles autores, ofereceria o lugar de vice para o pernambucano e reforçaria a presença do PMDB no Ministério como forma de compensação. É o que vai acontecer? Não necessariamente, mas é o que os observadores engajados no processo entendem que Lula engendra.
E também o que alguns espectadores da oposição acham provável partindo do princípio de que seria muito difícil Eduardo Campos, um situacionista, mudar radicalmente o discurso para buscar votos na condição de oposicionista.
Moto próprio. O PT tem autonomia para aplicar seu estatuto como bem entender. Nisso o presidente do partido, Rui Falcão, diz o óbvio ao justificar a decisão de não punir os condenados pelo Supremo: "Quem aplica o estatuto somos nós".
O PT só não pode insistir em dizer que o partido não se confunde com os crimes cometidos "por alguns" quando os protege alegando que a previsão de expulsão para condenados "por crime infamante ou práticas administrativas ilícitas" nesse caso "não se aplica". A interpretação é discricionária e casuística. Se de um lado evidencia uma unidade rara - senão inexistente - em outros partidos, de outro elimina a possibilidade de qualquer separação entre a ação de um grupo e o pensamento do coletivo, neste aspecto representado pelo presidente. Com a agravante de autorizar a conclusão de que para o PT as leis e regras não requerem obediência irrestrita. Dependem da conveniência.
Meia volta. Se arrependimento matasse não sobraria um deputado federal do PT para contar a história do acordo de rodízio na presidência da Câmara firmado com o PMDB.
É grande a inquietação na bancada, que não acha a menor graça em ficar de fora do comando do Congresso, ainda mais em ano de sucessão.
Na Câmara o acerto é em prol do líder pemedebista Henrique Eduardo Alves e no Senado vale o critério da escolha de um representante do maior partido. No caso, o PMDB.
Os deputados petistas alegam que não foram ouvidos sobre o acordo, cujos termos estão bem postos por escrito, assinados e devidamente guardados na gaveta do vice-presidente Michel Temer.
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