Divididos por amargas dissensões, democratas e republicanos nos EUA estão empatados em mais uma acirrada disputa presidencial
No começo do século 20, a política americana assumiu a feição atual, com dois partidos dominantes separados por diferença ideológica nítida porém estreita -o Partido Democrata mais à esquerda, o Republicano mais à direita.
Os democratas cresceram em simbiose com os sindicatos e obtendo respaldo no amplo reservatório de imigrantes, bem como nas minorias étnicas em expansão (hoje, 12% da população são negros e 16% têm origem hispânica).
Os republicanos mantiveram-se competitivos pelo enraizamento na imensa classe média estabelecida, nas igrejas conservadoras e na comunidade empresarial. Dos últimos dez presidentes, metade pertenceu a esse partido.
A trajetória de prosperidade dos Estados Unidos manteve as rivalidades partidárias num diapasão moderado; quando todos ganham algo, não há muita razão para divergir. Além disso, existiam contrapontos dentro de cada bloco.
O Partido Democrata alojava uma corrente bastante conservadora, sobretudo no Sul, como resquício da Guerra Civil (1861-1865), pois Lincoln e seus sucessores eram republicanos. Já a disputa com democratas nas metrópoles do Nordeste fez surgir uma corrente progressista no Partido Republicano.
Isso desapareceu. A partir dos anos 1970, o mecanismo das primárias, pelo qual se escolhem os candidatos, tornou-se mais participativo. Diminuiu o controle dos caciques partidários sobre o processo e aumentou o peso da militância organizada.
Antes de enfrentar o eleitorado centrista, o postulante tem de passar pelo crivo ideológico de facções como o ultraconservador "Tea Party" dos republicanos. Daí as manobras retóricas para trocar a imagem de "radical", antes projetada, pela de moderado.
A crise econômica, que já dura cinco anos, tornou mais aguda a polaridade ideológica. O que está em jogo é definir até que ponto regulamentar o sistema produtivo e em que medida deve ele financiar, via Estado, o restante da sociedade -mesmo que a atuação do governo sempre se contenha nos padrões modestos de uma economia liberal.
Barack Obama encerra seu mandato com a economia em discreta recuperação. Não conseguiu, com o simbolismo humanístico de sua vitória, superar as amargas divisões entre os dois campos. Encontra no republicano Mitt Romney um adversário eleitoral perigoso.
As pesquisas indicam empate. No idiossincrático sistema americano, uma leve dianteira no voto popular acarreta confortável vantagem no colégio eleitoral, que define o resultado. Ao que parece, a boa performance do governo na recente calamidade poderá fazer do furacão Sandy o alento que faltava para chegar ao segundo mandato na terça-feira.
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