FOLHA DE SP - 11/07
A população dá R$ 3,7 bi ao ano à USP, mas a falsa democracia interna pregada por militantes oportunistas só serviria a seus interesses sindicais e políticos
A universidade tem uma missão tríplice: educar as novas gerações, produzir conhecimento e promover sua ampla difusão. Essa é a matriz do sucesso social, científico, cultural e econômico de todas as sociedades que alcançaram alto grau de desenvolvimento.
As universidades que cumprem essa missão não são "gratuitas": somente em 2011 o Estado de São Paulo gastou mais de R$ 3,7 bilhões com a Universidade de São Paulo.
São os contribuintes de São Paulo que arcam com esses custos. Eles detêm o legítimo direito democrático de decidir como a USP e as demais universidades públicas estaduais devem ser dirigidas de modo a melhor servir-lhes.
Os pesquisadores da USP, que têm desempenhado um papel de enorme importância no desenvolvimento do Estado de São Paulo e do Brasil, defendem essa visão acadêmica da universidade pública e sua continuidade. Porém, a exemplo de outras maiorias silenciosas, eles são bem menos estridentes que certos grupos de oportunistas acadêmicos que, ornados de uma pseudointelectualidade a reboque da militância político-partidária, se arrogam o direito de representá-los.
Segundo essa militância, é a sociedade que deve servir aos seus interesses políticos e sindicais.
Assim, a universidade seria privatizada em favor de seus docentes, funcionários e alunos, que passariam a determinar "democraticamente" sua gestão, a despeito dos interesses maiores do país.
Essa visão néscia é popular entre entidades de autodesignados "representantes docentes", que há muito abdicaram de qualquer papel acadêmico, reduzindo-se à defesa de interesses sindicalistas, como questões salariais e trabalhistas, assim como às jogatinas das estruturas de poder.
O leitor não se iluda: as "eleições" desses representantes, assim como suas assembleias decisórias, reúnem uma parcela ínfima dos docentes.
Em particular, a ideia por eles difundida de que os "professores da USP" defendem a eleição "democrática" para reitor é uma farsa, por partir de entidades de representatividade questionável e por envolver uma distorção da noção de democracia.
Vale dizer, entretanto, que o atual processo de escolha do reitor da USP é talvez o segundo pior -só perdendo para a obtusa "eleição paritária" defendida pelos sindicalistas.
Como está hoje configurada, a eleição para reitor é uma sombra que recai sobre a USP, resultando, entre outras distorções, em um crescente aparelhamento dos órgãos acadêmicos, visando garantir votos para a eleição seguinte.
Como, então, proceder a essa escolha? As universidades de classe mundial resolveram há muito esse problema. Em quase todas o governo, a sociedade civil e as instituições que ajudam a financiá-las apontam os membros de um conselho, cuja missão é zelar pelo cumprimento de sua missão acadêmica.
Esse conselho escolhe, após rigoroso processo internacional de busca e seleção, o reitor da universidade. Trata-se de uma concepção oposta à de uma eleição direta, mas que garante a supremacia do profissionalismo e da eficiência em detrimento da politicagem.
O abismo entre uma universidade acadêmica e cientificamente forte, servidora da comunidade que lhe sustenta, e uma universidade corporativista e apegada aos sonhos de uma militância anacrônica tende a aumentar.
Nestes tempos, com exigências crescentes sobre as capacidades produtivas, de criação e de inovação das sociedades, as universidades públicas como a USP demandam reformas corajosas que venham ao encontro dos interesses da pesquisa e do ensino de qualidade.
A alternativa é seu sucateamento e o consequente empobrecimento geral do país.
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