O ESTADÃO - 11/07
Faltou combinar com o ainda titular da central , Artur Henrique Santos. Em discurso no 11.º congresso da entidade que ele chamou , sem corar , de " independente e autônoma " - mas no qual as estrelas da festa eram os réus " companheiros " José Dirceu , o ex-ministro de Lula , e Delúbio Soares , o ex - tesoureiro do PT , além do candidato petista à Prefeitura paulistana , Fernando Haddad - , Henrique fez um paralelo entre a denúncia do mensalão e o afastamento do presidente paraguaio Fernando Lugo. Fiel à versão de Lula para o escândalo , devidamente adotada pelo PT , o sindicalista disse que o impeachment de Lugo " foi o que tentaram fazer neste país em 2005 " , com a revelação , a seu ver fabricada , do esquema da compra de votos de deputados em benefício do governo petista.
Até aí , nada de mais. Faz tempo que jaz em camadas profundas o perdão que Lula pediu aos brasileiros , no momento de fraqueza em que também se declarou traído. O ponto é que , enquanto o bancário Vagner Freitas fingia abafar o repto ao STF , o eletricitário Artur Henrique o inchava. Fazendo praça do fato sabido de que a CUT toma partido na política , embora , como as congêneres , seja subsidiada pelo imposto sindical - todas poupadas por Lula de prestar contas dos milhões embolsados - , Henrique avisou que a organização sairá às ruas " para impedir o retrocesso e a volta da direita ". Ele se referia às próximas eleições municipais , mas não seria necessário ostentar a credencial de " petista histórico ", como diz a companheirada , para entender que o objeto oculto da falação era o Supremo.
O silogismo é elementar : se o desvendamento do mensalão foi uma tentativa de golpe, o mesmo vale para as suas consequências : a peça do procurador - geral da República, acolhida pela Corte , expondo , um a um , os membros da " sofisticada organização criminosa " responsável pela lambança , e as eventuais condenações dos réus petistas , a começar do expresidente da sigla José Dirceu. Veredictos " técnicos " , como disse Freitas na sua falsa retratação , serão os que absolverem os mensaleiros. Sentenças condenatórias serão necessariamente políticas , golpistas - merecedoras , antes até que se consumam , da justa ira do " povo trabalhador " , como Lula gosta de dizer.
Mas de que " golpe " se trata ? Excluída , por insana , a derrubada da presidente Dilma Rousseff , será a possível eleição do tucano José Serra em São Paulo ? Ou a reeleição do aecista Márcio Lacerda em Belo Horizonte ? Assim como os terrores de que padecem os paranoicos , a teoria conspiratória cutista tem um fundo de verdade.
Perdas eleitorais importantes para o PT este ano - que a sigla tratará de atribuir ao julgamento no STF - poderiam ter efeitos adversos para a reeleição de Dilma , apesar dos seus estelares índices de popularidade. O destino pessoal da presidente por quem a CUT morre cada vez menos de amores é , em si , secundário. O desejo cutista que não ousa dizer o nome é a candidatura Lula já em 2014. Nada deve pôr em risco a perpetuação no poder da sigla de que emana.
A soberba, como se sabe , cega. A truculência também. Imaginam os dirigentes da CUT que o Supremo se deixará intimidar por seus arreganhos ? Ou que a organização tem meios de criar no País um clima de convulsão capaz de " melar " o julgamento que tanto temem ? Em outras palavras , por quem se tomam ? Mas , no seu primarismo, as investidas do pelegato petista servem para lembrar à opinião pública a medida do seu entranhado autoritarismo e de sua aversão à democracia.
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