Pelo andar da carruagem do euro, parece que é nesta semana que teremos o desfecho da propalada hecatombe monetária.E que talvez não seja tão terrível quanto se vaticina. Bancos, governos,agentes financeiros legalizados ou clandestinos estavam fazendo as contas das perdas para o caso de a Grécia sair da zona do euro e reinstituir sua própria moeda. Fazer contas,no jargão empresarial, é outra maneira de se preparar para aguentar o tranco, ou seja, as perdas.
Esse é um jogo velhíssimo e super conhecido dos viciados em Bolsas de Valores: se não deu certo a jogada, simplesmente stop loss, pare a perda, assuma o prejuízo e parta para outra esperteza velhaca - que talvez dê certo, e a gente se recupera.
Como a crise do euro é fruto, em muito boa parte, de especulação insensata gigantesca, de governos e bancos, igual à das bolsas, a saída pode ser encarada com o mesmo tipo de estoicismo resignado: perdemos, logo, bola pra frente - dizem os jogadores. Esse estoicismo resignado não é, evidentemente, dos trabalhadores que perdem seus empregos. Estes partem para as ruas em protestos e destroem lojas, cujos donos, é claro, também não se podem resignar. Na verdade,ninguém se pode resignar à omissão de governos que, vendo os riscos de débâcle crescerem nos mercados financeiros, nada fizeram para tolher ao menos um pouco essa jogatina desenfreada que assola o mundo nos últimos 10 ou 15 anos.
O fato é que durante esta semana teremos uma resposta: ou a Grécia se desliga mesmo da zona do euro ou os governos europeus se entendem e encontram um jeito de manter a Grécia dentro dela. Na primeira hipótese, o problema para a economia mundial poderá ser mais perturbador do que na quebra do Lehman Brothers, em 2008. A repercussão sobre o nível de crescimento econômico em grande número de países pode realmente tomar proporções catastróficas. Os investimentos se retrairão a um nível mínimo, os empréstimos bancários também, a insegurança paralisará muitas atividades industriais, rurais e de serviços.
Aliás, é espantoso que, num ambiente como o que se prenuncia, esse finório com cara de bocó, dono dessa lorota empresarial chamada Facebook, tenha levantado bilhões de dólares - mais do que uma Petrobrás, que de fato tem ativos e produz petróleo - simplesmente empinando seus papagaios no vento, que é o que ele vende. Antigamente chamava-se de papagaios as notas promissórias que, em geral, o emitente não pretendia pagar. Ficavam rolando de credor em credor, recompradas com sucessivos descontos, até que um dia alguém se suicidava com elas na mão, ou então matava quem as emitira.
Mais que espantoso, é assustadora a IPO do momento, pois revela a amplitude da irresponsabilidade que tomou conta de quem gerencia recursos de terceiros. O "sucesso" de mais esse típico conto do vigário ("Oi, você compra este papel aqui por muito menos do que ele valerá amanhã?") resultou não de uma avaliação séria do negócio do "seu" MarkZuckerberg - como faz qualquer comprador de uma padaria em São Paulo - e, sim, de conchavos de operadores de fundos de pensão, fundos de investimento, corretores de ações e caçadores de prestígio.
E é essa esbórnia especulativa em grande escala que está pondo a pique a Grécia ou o euro, a Europa de todos ou a Europa de ninguém, os empregos e as aposentadorias de milhões de pessoas, as perspectivas de trabalho dos jovens que saem das faculdades para se tornar pouco mais do que pedintes nas ruas das capitais de países alegadamente "desenvolvidos". E não pode haver dúvida de que o surto de frustrações e desesperanças nascido desse estado de coisas lance muitos jovens de muitos países no mundo das drogas e do banditismo, sem esquecer o do terrorismo.
O pontapé inicial da farra dos mercados foi dado primeiro na Bolsa de Londres, em 1986, autorizando que dela participassem instituições financeiras estrangeiras, que assim escaparam das regulamentações bancárias e financeiras dos EUA. E, depois,em1999,o próprio presidente dos EUA, Bill Clinton, revogou as restrições, o Glass-Steagall Act, baixado por Roosevelt para acabar com a esbórnia financeira que criou a depressão daqueles anos.
Com a decisão de Clinton, começou a farra moderna, que se espalhou pelo mundo, e continua até hoje.
O estrago de agora não é só das condições das economias e finanças europeias, é também de doutrinas, acordos e princípios, engendrados, teoricamente, para pôr ordem no mundo.
Por exemplo, o Tratado de Maastricht e o pacto de boa governança entre os países do euro parece que vão para o brejo. Destino não mais glorioso, provavelmente, do que o chamado Consenso de Washington (de 1989), que a esquerda brasileira e o PT tanto queriam dinamitar.
Não foi preciso. Ele se autodinamitou - e já faz tempo: as dez regras de como os governos devem governar não duraram mais que dez anos. Na verdade, tornaram os países ingovernáveis.
O que pode ser mais lamentável, agora, é que a União Europeia, que tanto se buscou e que parecia cada vez mais próxima, pode recair na milenar desunião europeia.
Esse é um jogo velhíssimo e super conhecido dos viciados em Bolsas de Valores: se não deu certo a jogada, simplesmente stop loss, pare a perda, assuma o prejuízo e parta para outra esperteza velhaca - que talvez dê certo, e a gente se recupera.
Como a crise do euro é fruto, em muito boa parte, de especulação insensata gigantesca, de governos e bancos, igual à das bolsas, a saída pode ser encarada com o mesmo tipo de estoicismo resignado: perdemos, logo, bola pra frente - dizem os jogadores. Esse estoicismo resignado não é, evidentemente, dos trabalhadores que perdem seus empregos. Estes partem para as ruas em protestos e destroem lojas, cujos donos, é claro, também não se podem resignar. Na verdade,ninguém se pode resignar à omissão de governos que, vendo os riscos de débâcle crescerem nos mercados financeiros, nada fizeram para tolher ao menos um pouco essa jogatina desenfreada que assola o mundo nos últimos 10 ou 15 anos.
O fato é que durante esta semana teremos uma resposta: ou a Grécia se desliga mesmo da zona do euro ou os governos europeus se entendem e encontram um jeito de manter a Grécia dentro dela. Na primeira hipótese, o problema para a economia mundial poderá ser mais perturbador do que na quebra do Lehman Brothers, em 2008. A repercussão sobre o nível de crescimento econômico em grande número de países pode realmente tomar proporções catastróficas. Os investimentos se retrairão a um nível mínimo, os empréstimos bancários também, a insegurança paralisará muitas atividades industriais, rurais e de serviços.
Aliás, é espantoso que, num ambiente como o que se prenuncia, esse finório com cara de bocó, dono dessa lorota empresarial chamada Facebook, tenha levantado bilhões de dólares - mais do que uma Petrobrás, que de fato tem ativos e produz petróleo - simplesmente empinando seus papagaios no vento, que é o que ele vende. Antigamente chamava-se de papagaios as notas promissórias que, em geral, o emitente não pretendia pagar. Ficavam rolando de credor em credor, recompradas com sucessivos descontos, até que um dia alguém se suicidava com elas na mão, ou então matava quem as emitira.
Mais que espantoso, é assustadora a IPO do momento, pois revela a amplitude da irresponsabilidade que tomou conta de quem gerencia recursos de terceiros. O "sucesso" de mais esse típico conto do vigário ("Oi, você compra este papel aqui por muito menos do que ele valerá amanhã?") resultou não de uma avaliação séria do negócio do "seu" MarkZuckerberg - como faz qualquer comprador de uma padaria em São Paulo - e, sim, de conchavos de operadores de fundos de pensão, fundos de investimento, corretores de ações e caçadores de prestígio.
E é essa esbórnia especulativa em grande escala que está pondo a pique a Grécia ou o euro, a Europa de todos ou a Europa de ninguém, os empregos e as aposentadorias de milhões de pessoas, as perspectivas de trabalho dos jovens que saem das faculdades para se tornar pouco mais do que pedintes nas ruas das capitais de países alegadamente "desenvolvidos". E não pode haver dúvida de que o surto de frustrações e desesperanças nascido desse estado de coisas lance muitos jovens de muitos países no mundo das drogas e do banditismo, sem esquecer o do terrorismo.
O pontapé inicial da farra dos mercados foi dado primeiro na Bolsa de Londres, em 1986, autorizando que dela participassem instituições financeiras estrangeiras, que assim escaparam das regulamentações bancárias e financeiras dos EUA. E, depois,em1999,o próprio presidente dos EUA, Bill Clinton, revogou as restrições, o Glass-Steagall Act, baixado por Roosevelt para acabar com a esbórnia financeira que criou a depressão daqueles anos.
Com a decisão de Clinton, começou a farra moderna, que se espalhou pelo mundo, e continua até hoje.
O estrago de agora não é só das condições das economias e finanças europeias, é também de doutrinas, acordos e princípios, engendrados, teoricamente, para pôr ordem no mundo.
Por exemplo, o Tratado de Maastricht e o pacto de boa governança entre os países do euro parece que vão para o brejo. Destino não mais glorioso, provavelmente, do que o chamado Consenso de Washington (de 1989), que a esquerda brasileira e o PT tanto queriam dinamitar.
Não foi preciso. Ele se autodinamitou - e já faz tempo: as dez regras de como os governos devem governar não duraram mais que dez anos. Na verdade, tornaram os países ingovernáveis.
O que pode ser mais lamentável, agora, é que a União Europeia, que tanto se buscou e que parecia cada vez mais próxima, pode recair na milenar desunião europeia.
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