O GLOBO - 15/02
Pelo Banco Central, o país está em leve recessão. Ontem foi divulgado o IBC-Br negativo pelo segundo trimestre consecutivo. Mas a estimativa do BC pode não ser confirmada pelo IBGE. Vários analistas esperam crescimento, ainda que baixo, no quatro trimestre, e isso evita a feia palavra: "recessão". Mesmo assim, o risco não está afastado. As projeções do PIB de 2014 estão menores.
O Itaú Unibanco acha que o IBGE divulgará, dia 27, que o Brasil cresceu 0,4% no último trimestre. Se isso acontecer, não será recessão, porque ela é considerada após dois trimestres negativos. O economista José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, tem outra visão. Acha que há um risco de ter havido encolhimento no último trimestre do ano passado.
- Minha projeção está próxima de zero e há uma margem de erro que pode levar a taxa para o negativo - explicou.
Na agricultura, mesmo com alguma quebra de safra, o país terá uma boa produção de grãos. É o que disse, em vídeo divulgado aos clientes, o economista Alexandre Mendonça de Barros, da MBAgro. Apesar de o país ter sido castigado por um fenômeno climático muito forte - um calor que chegou a oito ou nove graus acima da época - a colheita de grãos será boa. Mas ele acredita que no segundo semestre haverá uma pressão maior nos preços de alguns alimentos.
A volta da chuva não afasta as sombras sobre o quadro energético, porque elas foram formadas pela soma de erros gerenciais, falhas no modelo e uma estação chuvosa anormal. O mais sensato seria o governo iniciar imediatamente um programa de racionalização de energia. O tema deveria sair do palanque, mas é mais provável que a presidente Dilma continue negando a existência do problema e empurrando o ajuste para 2015.
O Itaú Unibanco divulgou a nova previsão de crescimento para 2014: de 1,9% para 1,4%. Os economistas do banco projetam um dado positivo de 0,4% para o PIB do quarto trimestre, mas zero no PIB do primeiro trimestre. Haverá dados de confundir os não economistas. A indústria pode ter uma recuperação, mas o que eles chamam de "carrego estatístico" vai puxar o número do PIB para baixo. Será preciso crescer o suficiente para anular a queda de dezembro, para então, estatisticamente, haver alta do PIB.
E por que haveria crescimento da indústria num ano fraco, com confiança empresarial diminuindo? É que a queda de 3,5% de dezembro foi, em parte, decorrência dos estoques elevados. A indústria deu férias coletivas e vendeu os estoques. Precisará agora renová-los. Um fato negativo virá da Argentina. A crise cambial dos vizinhos vai reduzir a produção que seria exportada para lá.
Camargo tem uma projeção ainda pior para o PIB de 2014: 1%. Ele explica que há muita incerteza na política econômica para este e o próximo ano:
- Os investimentos estão se retraindo. Os problemas no setor elétrico retraem os investimentos porque pode não haver energia ou ela ficar muito cara. Os juros estão em alta e a inflação permanece elevada.
O ano não será fácil, mas não será tão ruim quanto os que se assustam com a instalação do Brasil na incômoda lista dos "mais frágeis", feita até pela nova presidente do Fed. O Brasil tem reservas, é credor externo líquido, terá superávit comercial, ainda que pequeno. Tem armas para cumprir a travessia pela qual passa a economia internacional que reduz o interesse dos investidores pelos países emergentes. Não estaríamos em situação difícil se o governo tivesse ouvido os que apontaram os erros na política econômica. Mas o governo preferiu politizar o que deveria ser encarado de forma objetiva e técnica.
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