CORREIO BRAZILIENSE - 09/02
Explicável, no Brasil de hoje, nem de longe é aceitável a reação brutal das pessoas que, impensadamente ou não, decidem fazer justiça com as próprias mãos. É certo que motivos não faltam para a indignação do cidadão correto. Espremida no desconforto do transporte público e angustiado pela dura realidade do descompasso entre o que ganha com seu trabalho honesto e o que precisa pagar para dar o mínimo à família, a maioria dos brasileiros sente diariamente a injusta devolução dos impostos que paga.
Educação pública de baixa qualidade e filas desumanas nos postos de saúde são outra rotina para milhões de pessoas que, só mesmo por "uma estranha mania", ainda mantêm "fé na vida", como a Maria, Maria, de Milton Nascimento. Mas isso não é tudo. Há agressões da vida brasileira que afetam ainda mais a paciência do cidadão. Em meio aos desarranjos provocados pela ausência ou ineficiência do poder público, o fracasso da segurança é o que tem provocado as mais descontroladas demonstrações de ira.
A foto de um garoto negro de apenas 15 anos, nu e ferido, amarrado a um poste em via pública, num bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, revela o perigo a que a sociedade está exposta. A crueldade foi aplicada como punição a um praticante de pequenos furtos, a pretexto de cumprir o que seus algozes julgam ter direito e até obrigação: a repressão ao crime. É o resultado da ação criminosa de grupos que se autointitulam justiceiros. Partem da falsa justificativa de que, se a autoridade nada faz, o faço eu. Pior: não faltam os que aplaudem e pedem mais. Uma corrente insana grassa nas redes sociais em apoio a essa atitude, com palavras que revelam o tamanho da ignorância dos manifestantes.
Ninguém nega ser revoltante conviver com a desenvoltura e a desinibição de pequenos e grandes bandidos, impunes e à vontade para fazer de trouxa quem se dedica ao trabalho e respeita a propriedade alheia. Mas não há nada que justifique ou perdoe o erro de assumir o papel que só deve caber ao braço policial do Estado. Nem é preciso pensar muito para se perceber que a mão que hoje decide punir por sua conta o furto de cocadas e pirulitos logo se sentirá no direito de eliminar desafetos, ainda que inocentes.
Não é outro o caminho da incivilidade. A turba que grita "morte" a qualquer pretexto não é, certamente, a melhor conselheira. Tampouco será com esse tipo de atitude que se vai construir uma sociedade democrática, produtiva, solidária e, principalmente, justa. É fácil justificar atitudes que vão da indiferença covarde à covardia da barbárie com frases aparentemente inteligentes que atribuem ao "sistema" todos os males da sociedade.
Melhor cobrar mais ação e menos promessas das autoridades, principalmente das que ficam com 70% da arrecadação tributária. Cabe a quem mais manda no país assumir sua parte, não apenas com verbas, mas com efetivo apoio técnico a estados e municípios, administrações mais próximas do cidadão. Trata-se da melhor preparação das polícias e, principalmente, da real oferta de acesso à cidadania das camadas mais pobres, com algo que vai muito além da ilusória compra a crédito de uma tevê digital. Do contrário, será enxugar gelo, acumular mais motivos de indignação e, portanto, dar motivo para voltar às ruas, em junho.
Educação pública de baixa qualidade e filas desumanas nos postos de saúde são outra rotina para milhões de pessoas que, só mesmo por "uma estranha mania", ainda mantêm "fé na vida", como a Maria, Maria, de Milton Nascimento. Mas isso não é tudo. Há agressões da vida brasileira que afetam ainda mais a paciência do cidadão. Em meio aos desarranjos provocados pela ausência ou ineficiência do poder público, o fracasso da segurança é o que tem provocado as mais descontroladas demonstrações de ira.
A foto de um garoto negro de apenas 15 anos, nu e ferido, amarrado a um poste em via pública, num bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, revela o perigo a que a sociedade está exposta. A crueldade foi aplicada como punição a um praticante de pequenos furtos, a pretexto de cumprir o que seus algozes julgam ter direito e até obrigação: a repressão ao crime. É o resultado da ação criminosa de grupos que se autointitulam justiceiros. Partem da falsa justificativa de que, se a autoridade nada faz, o faço eu. Pior: não faltam os que aplaudem e pedem mais. Uma corrente insana grassa nas redes sociais em apoio a essa atitude, com palavras que revelam o tamanho da ignorância dos manifestantes.
Ninguém nega ser revoltante conviver com a desenvoltura e a desinibição de pequenos e grandes bandidos, impunes e à vontade para fazer de trouxa quem se dedica ao trabalho e respeita a propriedade alheia. Mas não há nada que justifique ou perdoe o erro de assumir o papel que só deve caber ao braço policial do Estado. Nem é preciso pensar muito para se perceber que a mão que hoje decide punir por sua conta o furto de cocadas e pirulitos logo se sentirá no direito de eliminar desafetos, ainda que inocentes.
Não é outro o caminho da incivilidade. A turba que grita "morte" a qualquer pretexto não é, certamente, a melhor conselheira. Tampouco será com esse tipo de atitude que se vai construir uma sociedade democrática, produtiva, solidária e, principalmente, justa. É fácil justificar atitudes que vão da indiferença covarde à covardia da barbárie com frases aparentemente inteligentes que atribuem ao "sistema" todos os males da sociedade.
Melhor cobrar mais ação e menos promessas das autoridades, principalmente das que ficam com 70% da arrecadação tributária. Cabe a quem mais manda no país assumir sua parte, não apenas com verbas, mas com efetivo apoio técnico a estados e municípios, administrações mais próximas do cidadão. Trata-se da melhor preparação das polícias e, principalmente, da real oferta de acesso à cidadania das camadas mais pobres, com algo que vai muito além da ilusória compra a crédito de uma tevê digital. Do contrário, será enxugar gelo, acumular mais motivos de indignação e, portanto, dar motivo para voltar às ruas, em junho.
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