O GLOBO - 02/01
As projeções para a economia de 2013 falharam. Infelizmente, a realidade foi pior do que o esperado. Governo, Banco Central e mercado previam de 4% a 3,3% de PIB e o número final deve ser 2,3%. Para 2014, as previsões de PIB são modestas. Há chance de estarem errados e o país crescer mais do que os 2%? Sim. Vai ser um ano eleitoral, vai ter Copa do Mundo, a economia americana está mais forte.
Nem sempre acontece, mas em ano eleitoral o país cresce um pouco mais por um motivo não muito sustentável: os governos gastam mais. Desta vez, pode ser mais difícil tomar a mesma decisão porque tanto os estados quanto o governo federal estão com pouco espaço fiscal. Mas há outros motivos que podem mudar um pouco o cenário para melhor.
A economia internacional está num momento favorável. A Europa, em recuperação lenta; a China pode crescer um pouco menos, mas não teve a queda brusca que se temeu em alguns momentos do ano passado; os Estados Unidos estão tão fortes que o Fed já começou a reduzir os incentivos monetários. Isso elevará o dólar, o que pode ser um estímulo às exportações brasileiras, e uma chance de redução no déficit em transações correntes que piorou muito no ano passado.
A Copa não tem efeito prolongado, é apenas um mês, mas receberemos muito mais turistas do que em ano normal. Será fundamental a fiscalização para evitar abusos das companhias aéreas e da rede hoteleira. O preço alto traz para essas empresas um ganho imediato e uma perda de médio e longo prazo. Quem se sentir explorado não volta mais ao país. Se o Brasil causar boa impressão, os que vierem serão multiplicadores da informação que pode trazer mais turistas nos anos futuros, e, principalmente, em 2016.
As concessões e leilões do fim do ano passado podem deslanchar mais investimentos na economia. As limitações criadas pela legislação eleitoral vão fazer com que o governo antecipe as liberações de recursos de investimentos, que, em anos anteriores, têm sido deixadas para os últimos meses. Isso pode manter um nível de atividade um pouco melhor do que o decepcionante ano passado.
A boa herança que 2014 recebe é um índice de desemprego bem baixo, o que mantém a confiança das famílias na economia. O Natal foi magro, o brasileiro não se excedeu e não tem havido aumento importante de inadimplência. Ainda que o crédito esteja mais seletivo, o mercado de trabalho deve manter o consumo.
Os juros não vão continuar subindo por muito tempo, os sinais dados pelo Banco Central em suas últimas comunicações são de que o ciclo de aperto monetário está chegando ao fim. Se a política monetária tiver o efeito de reduzir os preços livres, o governo terá espaço para alguma correção dos preços administrados. A diferença entre esses dois grupos está criando distorções e desconfianças.
Para o ano passado, as projeções feitas pelo Banco Central, no último Relatório de Inflação de 2012, eram de um crescimento de 3,3% nos quatro trimestres até setembro de 2013, um ponto percentual acima do que realmente aconteceu. Uma das apostas erradas foi em relação à indústria, para a qual o BC esperava uma recuperação de 2,8%. No final de 2011, o Relatório do Banco Central previa um crescimento de 3,5% para 2012. E o que ocorreu de fato foi apenas 1%.
Depois de ter errado dois anos seguidos, projetando mais do que de fato aconteceu, o BC está prevendo para 2014 um crescimento menor: de apenas 2,1%. Mais realista, e até com uma chance de ter errado para menos, se ele tiver subestimado a capacidade de recuperação da economia. Será uma boa notícia se o BC tiver errado, de novo, só que, desta vez, por projetar um crescimento menor.
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