No apagar das luzes de 2013, o governo anunciou duas medidas que vão pesar no bolso dos consumidores. Primeiro, confirmou a elevação do IPI de automóveis a partir deste mês e o fim de qualquer abatimento até julho. Dias depois surpreendeu quem se programou para viajar no início do ano com a elevação de 0,38% para 6,38% do IOF sobre cartões de débito em moeda estrangeira, na tentativa de reduzir as despesas no exterior que até novembro somavam US$ 23,1 bilhões. Foi o bastante para que políticos e economistas da oposição criticassem a mudança nas regras do jogo e a inconstância na política econômica. Segundo eles, essas idas e vindas podem assustar os investidores. A partir desse diagnóstico, voltaram a defender uma reforma tributária para valer.
No caso do IPI, aproveitou-se a ocasião para bater na tecla do esgotamento do modelo de incentivo ao consumo. Ou seja, com o maior endividamento das famílias, as doses generosas de renúncia fiscal já não dariam o retorno esperado. A simples redução do imposto não é incentivo suficiente para a compra de carros novos, ao contrário do que aconteceu no auge da crise internacional de 2008. Com o passar do tempo, a política anticíclica perdeu a eficácia e o melhor a fazer hoje é recompor a arrecadação para enfrentar as crescentes despesas do setor público. Em relação aos gastos dos turistas brasileiros, o próprio governo reconheceu que chegou o momento de evitar uma sangria maior no balanço de pagamentos. O déficit em conta corrente, provocado pelos viajantes, subiu a US$ 17 bilhões, o que equivale a mais do que o dobro do leilão da área de Libra.
Os ajustes, sem dúvida, são necessários. E há uma certa dose de oportunismo nos ataques da oposição. Enquanto a receita do ministro Guido Mantega deu certo, permitindo que o Brasil brilhasse como exceção à regra, todo mundo ficou em cima do muro. Mas o cenário mudou, a inflação passou a ameaçar, os juros subiram, o PIB perdeu força e os Estados Unidos retomaram o crescimento, ao ponto de o FED reduzir os estímulos monetários. Diante disso, a fórmula original perdeu a magia. E, como diria Nelson Rodrigues, até as pedras sabem que o Brasil tem de corrigir o rumo, com ênfase maior na taxa de investimento e menor nos incentivos ao consumo. A hora é de aumentar a poupança interna e, quem sabe, elevar a Formação Bruta de Capital Fixo de 17% para 22% do PIB.
Na mensagem de fim de ano, a presidente Dilma Rousseff reconheceu que é tempo de mudança. "Assim como não existe um sistema econômico perfeito, dificilmente vai existir em qualquer época um país com economia perfeita. Em toda economia, sempre haverá algo por fazer, algo a retocar, algo a corrigir", disse. Mas reagiu com firmeza às previsões sombrias sobre os efeitos dessas mudanças: "Se alguns setores instilarem desconfiança, especialmente desconfiança injustificada, isso é muito ruim. A guerra psicológica pode inibir investimentos e retardar iniciativas ". A bem da verdade, quem primeiro apontou os riscos à frente da economia brasileira foi o ex-ministro Delfim Netto, interlocutor privilegiado do Palácio do Planalto. A oposição, em busca de bandeiras, seguiu a trilha aberta por Delfim. Mas vem disputa sucessória por aí e "a guerra psicológica" está apenas começando. O ataque dos críticos e o contra-ataque de Dilma fazem parte do jogo democrático.
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