ZERO HORA - 23/12
A não ser que ocorra alguma oscilação inesperada nesta véspera de Natal, pode ser considerada suave a reação do mercado financeiro mundial à decisão do banco central norte-americana (Federal Reserve) de retirar estímulos à economia. Havia grande preocupação em torno da medida. Mas as principais bolsas de todos os continentes encerraram a semana em alta, numa evidência de que os investidores gostaram das decisões e da transparência em torno delas. Neste contexto, também o cenário brasileiro descortina-se mais visível e menos assustador.
Ganha credibilidade, assim, a garantia da presidente Dilma Rousseff de que o Brasil está preparado para eventuais especulações. “Nunca estivemos tão preparados. Nós não estamos mais naquela fase que o pessoal dizia: espirrou nos Estados Unidos, pneumonia no Brasil” _ assegurou a chefe da Nação na semana passada. Lembrou a presidente que o país tem bases sólidas porque a inflação está sob controle, o desemprego é baixo e nossas reservas financeiras são elevadas. Sua previsão otimista encontra respaldo no desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre, medido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que registra uma expansão puxada pelos investimentos, que cresceram 6,5% entre janeiro e setembro.
Na comparação com outras economias, o país realmente parece estar mais protegido. Segundo a presidente, a dívida líquida do Brasil, em torno de 35% do PIB, é mais baixa que a da França, que ultrapassa os 100%. Ainda assim, não se pode esquecer que o ano prestes a se encerrar foi marcado por ocorrências internas de efeito negativo para a economia, entre as quais os prejuízos bilionários da Petrobras com o congelamento dos preços da gasolina e do diesel, e a quebra das empresas do grupo de Eike Batista, outro abalo no Ibovespa, que acumula queda de 15% desde janeiro.
São indicativos claros de que o governo não pode afrouxar os controles sobre a inflação. A confiança na economia brasileira ainda é frágil demais para se acreditar que estamos imunes em relação a eventuais mudanças no cenário externo. E, internamente, o otimismo não pode ser maior do que a cautela. Na última sexta-feira, o Banco Central revisou para baixo sua estimativa de inflação para o próximo ano. Cabe-lhe, portanto, fazer uso dos instrumentos de política monetária adequados para manter o monstro bem comportado. Inflação alta não é apenas prejuízo eleitoral certo, como temem os governantes em véspera de pleito. É, isto sim, um dando irreparável para a economia do país e para o poder de compra dos trabalhadores.
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