O Estado de S.Paulo - 19/11
Com a maior e mais diversificada indústria da América Latina, o Brasil depende cada vez mais do agronegócio e da mineração para sustentar seu comércio exterior, como se fosse um país especializado em produtos básicos. Basta ver a balança do agronegócio para ter uma ideia do desajuste comercial da economia brasileira. De janeiro a outubro o setor acumulou um superávit de US$ 72,13 bilhões, enquanto o saldo geral das exportações e importações de mercadorias foi um déficit de US$ 1,83 bilhão. O resultado negativo da indústria, nesse período, anulou todo esse grande superávit e mais aquele produzido pelas vendas de minérios. Mas até esse colchão de segurança poderá ser comprometido, nos próximos anos, se continuarem crescendo os custos logísticos, muito maiores no Brasil do que na maior parte dos grandes produtores agropecuários, a começar pelos EUA.
As exportações totais proporcionaram até outubro uma receita de US$ 200,47 bilhões, 1,4% menor que a de igual período de 2012, pela média dos dias úteis. Houve perda de receita em todas as grandes categorias - básicos, semimanufaturados e industrializados. Mas, quando se destaca o agronegócio, encontra-se um panorama diferente.
O valor exportado, de US$ 86,42 bilhões, foi 6,9% maior que o de um ano antes. O saldo, de US$ 72,13 bilhões, também superou o de igual período do ano anterior, com expansão de 7,22%. Apesar do cenário internacional adverso e também das dificuldades internas, principalmente de logística, os exportadores conseguiram elevar o faturamento obtido com os principais produtos.
A maior fatia da receita, de US$ 29,19 bilhões, 18,4% maior que a de um ano antes, foi proporcionada pelo complexo soja. Esse bom resultado foi garantido pelas vendas do produto em grãos, com aumento de 29,5% no volume e de apenas 0,8% no preço médio. Em outros casos, como no da carne bovina, houve redução do preço médio (4,9%), enquanto a tonelagem aumentou 20,8%. No caso do açúcar, a expansão do volume vendido (18,5%) foi insuficiente para compensar a queda do preço (17,9%) e a receita, de US$ 9,94 bilhões, acabou sendo 2,7% menor que a de janeiro a outubro de 2012.
Em resumo, os exportadores do agronegócio enfrentaram condições variadas de preço e de demanda, mas, no conjunto, conseguiram obter resultados bastante bons e sustentar, ou mesmo ampliar, sua participação nas vendas globais.
O aumento geral da receita de vendas, de 6,9%, foi distribuído desigualmente entre vários mercados, mas houve aumentos importantes do valor embarcado para alguns dos principais compradores, como China, EUA, Países Baixos, Japão, Itália e Coreia do Sul. A participação chinesa nas exportações do agronegócio brasileiro aumentou de 21% para 25,3%. A dos EUA, de 6,9% para 7,1%. A dos Países Baixos, de 6% para 6,8%.
Com os ganhos de produtividade acumulados nos últimos 25 ou 30 anos, o agronegócio tem conseguido superar desvantagens importantes, a começar pelos problemas logísticos. Para levar seu produto da fazenda à indústria, ao comércio ou ao porto, um fazendeiro americano do Meio-Oeste gasta cerca de um terço do valor despendido pelo brasileiro, como foi mostrado em recente reportagem no Estado. A isso seria preciso acrescentar problemas de tributação e custos burocráticos - sem falar na insegurança criada pelas tolices da política agrária.
Desvantagens como essas tendem a crescer, se as soluções prometidas forem muito demoradas e incompletas. A tendência, na maior parte dos países concorrentes, é a oposta - melhora sensível e rápida nas condições de produção e de comercialização. No Brasil, é necessário atacar problemas como esses também para destravar o potencial de competição dos demais setores produtivos. De janeiro a outubro do ano passado o saldo comercial do País havia sido um superávit de US$ 17,35 bilhões. A deterioração já ocorre há alguns anos e a passagem a um déficit de US$ 1,83 bilhão neste ano, até outubro, é um sintoma assustador. Todas as causas são internas.
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