O ESTADÃO - 24/11
Yuri é um daqueles russos que só estavam esperando o fim do comunismo para ficar multimilionário. Ouvira dizer que o lugar no mundo para se conhecer mulheres sensacionais era o Brasil. Fez um curso rápido de português, o bastante para não se perder ou ser enganado no Rio, e veio.
No avião a caminho do Rio, Yuri sentou-se ao lado de um brasileiro, e quis a sorte que fosse um brasileiro gaiato. Uma das comissárias de bordo do avião era belíssima, e quando começaram a servir o café da manhã, antes da aterrisagem no Galeão, Yuri virou-se para seu companheiro de voo e perguntou:
– Como se diz “quero fazer sexo com você” em pórtugues?
– Yogurt – disse o brasileiro.
Quando chegou a sua vez de pedir à aeromoça o que queria com seu café, Yuri disse depressa:
- Yogurt! E a aeromoça: – Com frutas ou natural?
E Yuri, radiante, se convenceu de que estava vindo para o lugar certo.
RELATÓRIO
Mateus não era um simplório. Era um homem inteligente e bem informado. O que não significa que não tenha ficado intrigado, sem saber se era verdade mesmo ou brincadeira, quando sua mulher Dalinda disse que tinha recebido um relatório da CIA a seu respeito.
– Cumé?
– O serviço de espionagem americano tem seguido todos os seus passos.
– Que bobagem é essa, Dalinda? Por que os americanos iriam se interessar por mim?
– Eu pedi. – O quê?!
– Eu pedi. Gravações 24 horas por dia, todos os dias. Neste momento, tem um satélite americano contando os seus fios de cabelo.
– Vai me dizer que a CIA trabalha para você!
– Eles fazem serviço pra fora. Espionam qualquer um, por uma módica quantia. É uma das maneiras que têm de financiar o programa.
– De qualquer maneira, eu não fiz nada suspeito. Eles não têm o que espionar.
– Não é o que diz o relatório. – Quero ver esse relatório.
– Nem pensar. – Você está blefando, Dalinda.
– Acredite o que quiser.
Matheus deu uma gargalhada. Com quem a Dalinda pensava que estava tratando? Ele não era um simplório. Mas a verdade é que tem ficado mais em casa, cortou os encontros com a Suzette às quintas-feiras e volta e meia olha para o alto, tentando ver alguma coisa.
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