FOLHA DE SP - 24/11
BRASÍLIA - Você sabia que 61,8% dos negros vítimas de violência não dão queixa na polícia? Pois é.
Eles não confiam nos agentes do Estado pagos justamente para proteger a sociedade. E não confiam pelo longo histórico de injustiças e de seletividade. Numa batida policial, adivinha quem cai na rede? E quem mais sofre maus-tratos?
O percentual consta da Nota Técnica número 10 do Ipea, que dá muito o que pensar, sobretudo neste momento de apaixonado debate sobre a prisão dos mensaleiros --quer dizer, sobre a dos três mensaleiros petistas, porque ninguém dá bola para todos os demais.
Segundo a pesquisa, intitulada "Vidas Perdidas e Racismo no Brasil", de Daniel Cerqueira e Rodrigo Leandro de Moura, o número de presidiários negros é muito superior ao de presidiários não negros: eram 253 mil contra 170 mil em 2010. Ou seja, 80 mil a mais!
Confinados a áreas mais pobres e mais violentas, os negros são as maiores vítimas e acabam sendo também os maiores réus, confirmando que as prisões brasileiras continuam sendo para os PPP --pobres, pretos e prostitutas.
Como uma coisa puxa outra, poucos --governos, instituições, cidadãos-- de fato se preocupam e se ocupam com o que acontece, a sete chaves, entre as grades, nesses ambientes "medievais" e "desumanos", conforme adjetivação das próprias autoridades que deveriam zelar pela Justiça.
É por isso que, hoje, os holofotes estão na Papuda, a penitenciária da capital da República. Ali, os PPP passaram a conviver lado a lado com os colarinhos brancos.
O condenado Cristiano Paz, que não é bobo nem nada, já mudou de ideia e, em vez de Minas, preferiu ficar preso na Papuda mesmo. Com a romaria de um ex-presidente da República, do governador do DF e de deputados do PT, alguma coisa deve mudar por lá. Tomara que não seja só para os novos habitantes...
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