FOLHA DE SP - 24/11
SÃO PAULO - De onde vem a moral? Para os religiosos, ela vem de Deus. Para empiristas como John Locke, da experiência. Já Hume a subordina às paixões. Em Kant, ela desponta como um "a priori" da razão.
Essas abordagens, em que pese os valiosos "insights" que produziram, têm um problema em comum: elas estão mais calcadas em especulações filosóficas do que na realidade. É bem verdade que, à época em que tais teorias foram concebidas, não havia muito como proceder de outra forma. De algumas décadas para cá, porém, neurocientistas, psicólogos e até filósofos se puseram a escarafunchar e medir as reações humanas a diferentes tipos de estímulo moral e reuniram uma coleção de dados que, embora não bastem para resolver a questão, são suficientes para pelo menos guiar nossas reflexões através de caminhos mais sólidos.
O recém-lançado "Just Babies: The Origins of Good and Evil" (apenas bebês: as origens do bem e do mal), de Paul Bloom, explora bem essa senda. O autor retoma seus clássicos experimentos que mostram que bebês de poucos meses já exibem clara preferência por personagens bonzinhos e até se arriscam a punir os maus, os junta com interessantes achados em campos tão variados como a antropologia e a metaética e nos oferece uma obra profunda e gostosa de ler, rica em temas campeões de audiência, como sexo, raça e religião.
A tese central do autor é que, embora a evolução nos tenha dotado com impulsos inatos, como o sentido rudimentar de justiça já presente nos bebês, e sentimentos morais como compaixão e empatia, isso ainda não basta para erigir uma ética. Afinal, somos mais do que bebês. Uma parte fundamental de nossa moralidade, a que nos torna humanos, diz Bloom, vem da nossa enorme capacidade de utilizar a razão para resolver problemas, aspecto que ficou fora de moda na ciência recente.
Nesse contexto, "Just Babies" ganha ares de manifesto iluminista.
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