O ESTADÃO - 11/08
Mídia Ninja foi uma grande surpresa das manifestações que tomaram o Brasil em junho. Armados de celulares, transmitiram os protestos em tempo real, durante horas, pela internet, documentando acontecimentos que a grande imprensa não conseguiu captar. Na segunda-feira, Bruno Torturra e Pablo Capilé, idealizadores do coletivo jornalístico, participaram do programa Roda Viva, na TV Cultura. Foi um assunto muito comentado nas redes sociais.
Teve gente que criticou a bancada do Roda Viva. Entre outros motivos, por terem ficado um bom tempo perguntando sobre fontes de financiamento e modelo de negócios. Alguns acharam que os dois jovens deram um baile nos experientes jornalistas que os entrevistaram. Acho que não. Torturra e Capilé são bem articulados, e foram devidamente pressionados pelos entrevistadores. O resultado foi bastante informativo.
Fontes de financiamento estão longe de ser uma questão menor. Os grupos de comunicação, pequenos e grandes, enfrentam o desafio de construir modelos sustentáveis de serviços noticiosos na internet. Como o Mídia Ninja apareceu como alternativa aos meios convencionais, nada mais justo do que querer saber como se sustenta.
Pelo que responderam no Roda Viva, as pessoas praticamente trabalham de graça. O Mídia Ninja surgiu do coletivo Fora do Eixo, que organiza festivais de música e outros eventos culturais em várias cidades.
Capilé falou durante o Roda Viva dos Cubo Cards, moeda virtual criada por eles, que pode ser trocada por serviços prestados pelos integrantes do coletivo. Depois do Roda Viva, apareceram nas redes sociais vários descontentes com o Fora do Eixo. Uma das principais reclamações é que eles captam recursos em editais governamentais e de empresas em reais e querem pagar os artistas que participam dos festivais com os tais Cubo Cards. Mas a padaria da esquina não aceita Cubo Cards quando alguém vai comprar pãozinho.
O Mídia Ninja estuda algumas alternativas para sustentar sua operação, incluindo crowdfunding (financiamento em massa), assinaturas e micropagamentos. Até agora, no entanto, os recursos vieram do Fora do Eixo.
Palavras como "coletivo", "colaborativo" e "solidário" podem ser ferramentas para convencer as pessoas a trabalhar de graça. O discurso fica ainda mais convincente quando inclui expressões como "empoderamento" e monetização". Tem gente que usa suas horas vagas para contribuir gratuitamente para um artigo da Wikipédia ou.com linhas de código para um projeto de Software livre. Mas até que ponto seria sustentável exercer de graça (ou quase) a sua atividade principal?
Nos Estados Unidos, o Huffingtors Pasf tinha cerca de 6 mil blogueros que escreviam sem receber nada. Em 2011, Arianna Huffington, fundadora do site de notícias, vendeu sua criação para a AOL por US$ 315 milhões. Os blogueiros, é claro, ficaram revoltados com a transação.
Na semana passada, Jeff Bezos, dono da Amazon, anunciou a compra do "Washington Post por U5$ 250 milhões. Diante da aquisição, muitos passaram a temer pelo futuro do jornal, que poderia se tornar uma ferramenta para o bilionário conseguir apoio às políticas que interessam a ele na capital americana, como a isenção de impostos nas vendas pela internet Ele disse que não. De qualquer forma, será interessante ver alguém com bolsos tão fundos quanto os de Bezos (sua fortuna é avaliada em U5$ 26,7 bilhões) liderar a transição de um grande jornal.
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