domingo, agosto 11, 2013

Adormecido, dragão ainda expele fogo - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 11/08
Quem haveria de contestar a afirmativa da presidente Dilma Rousseff de que "a queda da inflação é uma maravilha"? Só não é hora de comemorar. Embora o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) esteja em declínio há três meses, tendo caído a 0,03% em julho, o fogo mais fraco expelido pelas ventas do dragão continua guardando potencial explosivo. Basta, por exemplo, uma faísca encostar nos combustíveis para o foguete disparar e romper o teto da meta anual.

Explica-se: hoje, o IPCA acumula alta de 6,27% em 12 meses, dentro, portanto, do limite de 6,5% fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Mas é contido a fórceps. Ou melhor: com prejuízo para a Petrobras estimado, usando a gasolina como referência, em R$ 0,89 por litro vendido nos postos, que custaria R$ 3,88 contra os R$ 2,99 cobrados. A diferença representa a defasagem em relação ao mercado internacional. Sem o subsídio, integrantes da equipe econômica do governo estimam que a inflação bateria em 6,6% a 6,8% em 2013.

O problema é que - já dizia o Prêmio Nobel de Economia de 1976, Milton Friedman - não existe almoço grátis. A retenção dos preços agora apresentará conta gorda mais além. E essa dos combustíveis tem o agravante de ser paga em dólar, moeda em franca valorização frente ao real. Não bastasse, virá em bloco, com outras ora penduradas pelas autoridades. São as referentes aos preços administrados - definidos ou regulados pelo Estado.

As tarifas dos transportes, por exemplo, todos se lembram, tiveram o reajuste suspenso com as manifestações populares de junho. Antes, a energia elétrica já ganhara desconto. A sociedade respira aliviada, até que um dia a bola de neve dos gastos públicos role montanha abaixo. Aí é um deus nos acuda. E, ninguém se iluda, a capacidade de investimento do Estado já está comprometida, como também perde força o poder de compra do consumidor.

Com o crescimento vertiginoso das despesas governamentais, torna-se mais difícil também atender o reclame das ruas país afora no que toca à melhoria dos serviços públicos. Mais do que isso: empregos deixam de ser criados, a produção fica aquém do consumo, os preços sobem, e a inflação revela-se trava consistente, encarecendo o crédito e derrubando o poder de compra.
Ou seja, o círculo é vicioso: o descontrole inflacionário mina os esforços a favor do desenvolvimento, e o estrangulamento da produção pressiona os preços. Urge, pois, desempenar a roda da economia para que ela possa girar livremente, desimpedida, encontrando os próprios caminhos.

A solução dos problemas depende da vontade política dos Três Poderes nos três níveis. E também da iniciativa privada. Afinal, mesmo quando há dinheiro, faltam projetos, planejamento, fiscalização. Sobram infraestrutura obsoleta, burocracia para abrir e fechar negócios, insegurança jurídica, impostos e juros elevados. Esse é o quadro a mudar. Combater a inflação é segurar preços, o que o custo Brasil impede que seja feito na plenitude.

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