ESTADÃO - 30/07
Os críticos da atual política econômica vêm apontando como principais causas dos desacertos tanto problemas de gerenciamento quanto e barreiras de ordem ideológica.
Com algumas exceções, talvez não se possa falar propriamente de barreiras ideológicas, mas de posturas I equívoca das de governo.
As resistências desta administração em chamar o setor privado a participar mais agressivamente de projetos de infraestrutura e de outros serviços públicos são provavelmente um dos poucos entraves de ordem ideológica propriamente dita. Mesmo depois de ter trombado tantas vezes com as limitações de recursos públicos, o governo Dilma ainda não superou antigos preconceitos contra quaisquer formas de privatização, inclusive as Participações Público-Privadas (PPPs) que muitos ainda insistem em chamar de "privataria".
Entre as posturas equivocadas do governo está a concepção de que mais importante do que a solidez dos fundamentos da economia é a vontade política, na base do ase eu quero, eu posso", em que a decisão transformadora supera qualquer obstáculo. Daí a enorme dose de voluntarismo que perpassa a administração Dilma.
Faz parte desse jogo a ideia de que basta garantir o avanço do consumo e aumentar a escala da economia para que o resto venha junto. Logo se viu que a criação de mercado interno por meio de políticas de transferência de renda não foi suficiente para puxar pela produção e pelos investimentos, porque os produtores nacionais estão atolados na baixa competitividade.
Outro equívoco dessa natureza foi a política de derrubada sistemática dos juros, prevalecente de agosto de 2011 a abril de 2013, independentemente das exigências da política de metas de inflação. O pressuposto foi de que ganhariam as contas públicas, pela queda do serviço (juros) cia dívida pública, e ganharia a inflação, pela redução dos custos financeiros. Mas a política fiscal, ficou defeituosa e a inflação disparou.
A postura voluntarista seguinte foi a de que, ao contrário do que aponta a maioria dos estudos sobre a matéria valeria a pena sacrificar a inflação em beneficio de mais crescimento e econômico. O resultado, conto advertiu no Estadão de ontem ex-diretor do Banco Central Alberto Furuguem, foi apenas mais inflação.
Para tentar consertar distorções desse tipo, o governo Dilma apelou para expedientes de política de preços. Segurou e subsidiou os reajustes dos combustíveis, forçou a redução das tarifas de energia elétrica (que agora terão de ser cobertas com recursos do Tesouro), postergou e, agora, removeu a correção das tarifas dos transportes públicos e ate mesmo usou certas reduções de impostos ("como a dos veículos e dos aparelhos domésticos) para conter á inflação. Em seguida, vieram as distorções já conhecidas.
Não da para deixar de enumerar entre as práticas voluntaristas do governo certos procedimentos de política industrial. O abuso das exigências de conteúdo local (instalações, bens de capital, peças e componentes a serem obrigatoriamente produzidos no País); a criação de reservas de mercado; e a escolha de campeões do futuro para receber subsídios financiamentos a juros favorecidos e encomendas generosas também fazem porte dessa política.
Essas coisas produzem consequências. E entre elas estão as enormes distorções que travam o sistema, produtivo e tiram eficácia da economia.
É a inflação
Ontem, dois índices diferentes apontaram para forte quebra da confiança no desempenho da economia. O primeiro deles (gráfico acima) apontou em julho o menor nível de confiança da indústria desde julho de 2009. E o outro, elaborado pela Confederação Nacional da Industria, acusou, também em julho, o menor nível de confiança do consumidor desde junho de 2009. Têm a ver com a inflação e as manifestações.
Um comentário:
Esse foi o risco assumido pelo brasileiro quando elegeu Lula em 2002 e 2006; Dilma em 2010. Como era de se esperar, não está dando certo. Não se pode entregar um país complexo como o Brasil a pessoas sem um mínimo preparo para governar
Agora, percebe-se uma enormidade de críticas ao desgoverno atual. E não há mais condições para uma efetiva correção de rumo.
Tomara que, em 2014, o eleitor não cometa erro idêntico pois o que deverá ser corrigido, somado ao que deverá ser criado, exigirá enorme competência e, sobretudo, liderança e honestidade.
Que tal começar, desde já, a fazer o plano para eleger com maioria consagradora o futuro presidente, garantindo-lhe, por meio de escolhas cuidadosas, margem de apoio no Congresso que dispense alianças espúrias?
Que tal fazer uma escolha baseada em desempenho passado, refletindo o que já realizou enfrentando desafios internos, externos, políticos e econômicos?
Que tal pensar em Fernando Henrique Cardoso?
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