O Estado de S.Paulo - 30/07
Um dos aspectos mais espinhosos das discussões econômicas é o da comparação de desempenho entre países. Parece mais um exercício de imposição de um tipo de modo de pensar a economia, no qual mal se esconde um viés político - e, na maior parte das vezes, é isso mesmo.
Quando os números da economia brasileira começaram a descer a ladeira, o embate entre os economistas do governo e os críticos de sua política econômica passou a rodar em torno de uma justificativa e de sua negação. Para o governo - e seus aliados -, a raiz da perda de fôlego se localizava no renitente baixo ritmo de crescimento global. Já os críticos, apontando para o melhor comportamento de outras economias tão emergentes quanto a brasileira, carregavam nas mazelas econômicas verde-amarelas.
O problema insanável desse tipo de debate é que os debatedores, frequentemente, costumam desprezar a natureza dos ciclos econômicos e as suas também naturais assimetrias geopolíticas. A tentação de simplificar, em resumo, aumenta o risco do embarque em canoas furadas. Informações recentes sobre o ambiente e os horizontes econômicos globais confirmam que o risco de tomar partes pelo todo está aumentando.
Revisões e atualizações de projeções do crescimento global indicam que, com todos os seus evidentes e inegáveis problemas específicos, o Brasil não deveria ser tomado, pelo menos neste momento, como um ponto tão fora da curva quanto a trajetória da expansão econômica mundial. A presente etapa da crise global começa a se caracterizar pela perda de vigor das economias periféricas - "emergentes" no linguajar elegante dos mercados -, depois de um período em que elas, sob a ampla liderança da China, esta sim um emergente fora da curva, sustentaram o crescimento global.
Na capa da edição da semana passada, a revista The Economist aborda o tema do freio na expansão dos emergentes, sob o título "A grande desaceleração". O fato é que a percepção cada vez mais difundida segundo a qual as economias não centrais estão batendo no muro e puxando o crescimento como um todo para baixo, dez anos depois de saltarem de 38% para 50% da produção global, encontra respaldo nas previsões de crescimento dos organismos multilaterais. Agora em julho, o FMI revisou, pela quinta vez seguida, a média do crescimento mundial de 3,3% para 3,1%, em 2013.
Na mesma linha e também para este ano, Cepal, órgão econômico da ONU para a América Latina, divulgou, na semana passada, revisão para baixo da expansão econômica da região. De 3,5% para 3%.
Cuidado para não cair da cadeira, mas esse nível será sustentado, pela ordem de crescimento, por Paraguai (mais 12,5%), Panamá (mais 7,5%), Peru (mais 5,9%), Bolívia (mais 5,5%) e Nicarágua (mais 5%).
Como no caso do FMI, a Cepal possivelmente ainda terá de ajustar suas projeções, de novo para baixo, antes do fim do ano. O Brasil, por exemplo, não crescerá 2,5%, como preveem, no momento atual, os dois organismos. Mas não custa lembrar que o México também está na rabeira das previsões, com expansão de 2,8%, perdendo da Argentina, do Equador e até do Haiti.
A economia brasileira, não faz muito tempo, entrou numa rota descendente no ranking dos "queridinhos" entre os emergentes, cedendo lugar justamente para o México. O "modelo" mexicano entrou no radar de analistas daqui e de fora porque apresentava, comparativamente, pontos positivos que o Brasil perdera, não soubera promover ou fora incapaz de sustentar.
Reformas pró-mercado e integração ao comércio internacional, com a costura de dezenas de acordos bilaterais, transformaram a economia mexicana, na visão de muitos, em paradigma a ser perseguido pelo Brasil. Mas a verdade é que, sem querer desculpar os evidentes erros da economia brasileira, vê-se com mais clareza agora que receitas prontas de vizinhos da região também podem não levar suas economias muito longe, quando o ambiente global é adverso.
Um comentário:
Distinguir o joio do trigo e escolher o melhor rumo está além da competência do atual governo. O risco de má governança foi assumido pelo brasileiro quando elegeu Lula em 2002 e 2006; Dilma em 2010. Como era de se esperar, não está dando certo. Não se pode entregar um país complexo como o Brasil a pessoas sem o mínimo preparo para governar
Tomara que, em 2014, o eleitor não cometa erro idêntico pois o que deverá ser corrigido, somado ao que deverá ser criado, exigirá enorme competência e, sobretudo, liderança e honestidade.
Que tal começar, desde já, a fazer o plano para eleger com maioria consagradora o futuro presidente, garantindo-lhe, por meio de escolhas cuidadosas, margem de apoio no Congresso que dispense alianças espúrias?
Que tal fazer uma escolha baseada em desempenho passado, refletindo o que já realizou enfrentando desafios internos, externos, políticos e econômicos?
Que tal pensar em Fernando Henrique Cardoso?
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