O GLOBO - 30/07
A economia brasileira está diante de vários obstáculos que impedem o crescimento mais forte. Para recuperar o ritmo, terá que superá-los e, para isso, o governo precisa reconhecer o que não está funcionando. A presidente propôs um "pacto da verdade" mas, em seguida, fugiu dele. O fato é que os nós se acumularam e isso está derrubando a confiança dos consumidores e dos empresários.
A inflação será baixa em julho e agosto, mas ela está alta demais há muito tempo e não há previsão de quando volta ao centro da meta. A balança comercial está com déficit. Algumas commodities caíram de preço, mas isso sozinho não explica o rombo. Ele é resultado de uma importação crescente de petróleo e derivados, causada pelo incentivo ao consumo da gasolina e pelo uso das térmicas, e insuficiência de produção. O déficit em conta corrente subiu e não é coberto por investimentos diretos.
O mercado de trabalho vive um drama duplo: os empresários acham que falta mão de obra qualificada mas jovens não encontram emprego. O consumo não crescerá no ritmo que cresceu porque o endividamento das famílias dobrou nos últimos 8 anos e hoje compromete quase um quarto do orçamento familiar. Continuar estimulando o consumo, via dívida, é mais difícil. O cenário é parecido com os gastos públicos. Apenas no primeiro semestre deste ano, o governo concedeu R$ 35 bilhões em desonerações que não deram o resultado esperado.
A arrecadação cresceu 0,5% no semestre, descontada a inflação, e não há espaço para novos estímulos. O superávit primário caiu, e a dívida bruta está aumentando. A dívida que todos olham é a bruta, e, segundo dados do Banco Central, ela saiu de 54,06% do PIB, em janeiro de 2011, para 59,58%, em maio de 2013. A dívida líquida perdeu credibilidade porque passou a incorporar ativos sem liquidez, como os empréstimos feitos ao BNDES.
O PIB será baixo pelo terceiro ano seguido. As projeções para o ano que vem também caíram para a casa de 2% e o período entre 2011 e 2014 deve ser o de mais baixo crescimento dos últimos 20 anos: média de apenas 2,12%, levando em conta as projeções feitas no Boletim Focus para 2013 e 2014.
O principal gargalo é a inflação. Ela está perto do teto da meta, em 6,5%, mesmo com um nível de atividade baixo. Se a economia voltar a acelerar, ela pode ficar mais alta. A menos que a taxa caia bastante agora. Mas, se errar na dose de juros, o BC derruba demais o nível de atividade.
A balança comercial encerrou o primeiro semestre com déficit de US$ 3 bi. No mesmo período de 2012, estava com superávit de US$ 7 bi. Olhando mais para trás, em 2005, foram US$ 20 bi, de janeiro a junho.
O setor de energia é um dos gargalos. Os níveis dos reservatórios subiram, felizmente, mas ainda estão no patamar mais baixo dos últimos 10 anos para o período, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico. O ONS tem os dados no site, para consulta pública. Para economizar água, as térmicas foram acionadas. Como o governo tinha anunciado, em clima de campanha, a redução da tarifa, agora não poderá pedir para o consumidor pagar a conta do custo das térmicas. Ontem, o "Estado de S. Paulo" informou que R$ 6,7 bi terão que ser repassados do Tesouro para cobrir o custo. Não pagarão os consumidores, mas os contribuintes.
A presidente Dilma Rousseff, em entrevista à Mônica Bergamo, da "Folha de S. Paulo", disse que, além dos cinco pactos que propôs, iria propor um sexto: o pacto da verdade. Em seguida, disse que a inflação está baixa, a dívida pública está caindo, os gastos estão sob controle, e o déficit da Previdência é pequeno.
A verdade que ela disse foi que o ex-presidente Lula não voltará porque nunca foi embora. Momento de louvável sinceridade. Confirma o que se sabia sobre a autonomia da atual governante em relação ao seu antecessor. E mostra que os nós atuais foram atados a quatro mãos.
2 comentários:
Os pessimistas de plantão não condizem com importação de executivos e investimentos estrangeiros crescentes no país. Dos 4 anos de Governo do FHC (segundo mandato) 3 anos estouraram a meta; os juros eram altíssimos, a dívida era mais alta ainda, o desemprego era preocupante e a inflação chegou a 12,53%, mas o Brasil virou o jogo, com o governo Lula, já no primeiro mandato e sem grandes revoluções.
O risco de má governança foi assumido pelo brasileiro quando elegeu Lula em 2002 e 2006; Dilma em 2010. Como era de se esperar, não está dando certo. Não se pode entregar um país complexo como o Brasil a pessoas sem o mínimo preparo para governar
Agora, percebe-se uma enormidade de críticas ao desgoverno atual. E não há mais condições para uma efetiva correção de rumo.
Tomara que, em 2014, o eleitor não cometa erro idêntico pois o que deverá ser corrigido, somado ao que deverá ser criado, exigirá enorme competência e, sobretudo, liderança e honestidade.
Que tal começar, desde já, a fazer o plano para eleger com maioria consagradora o futuro presidente, garantindo-lhe, por meio de escolhas cuidadosas, margem de apoio no Congresso que dispense alianças espúrias?
Que tal fazer uma escolha baseada em desempenho passado, refletindo o que já realizou enfrentando desafios internos, externos, políticos e econômicos?
Que tal pensar em Fernando Henrique Cardoso?
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