O Estado de S.Paulo - 12/07
Terça-feira, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, garantia que, "em cinco ou seis meses, quando a economia melhorar", a presidente Dilma terá voltado a desfrutar do prestígio junto à população e do apoio político perdido nos últimos meses.
É uma afirmação que se baseia em pressupostos e condicionantes que convém examinar. Fica reconhecido que a perda de chão político sob os pés da presidente Dilma não se deveu a súbitas mudanças de estado de espírito de uma população temperamental, mas aos desarranjos da economia, que se espera agora seja consertada. Não é difícil de identificar os dois principais: a escalada da inflação e o crescimento econômico insatisfatório. Mas há outros: os rombos crescentes nas contas externas, uma indústria que sofre de atrofia nas pernas e, principalmente, a condução deficiente das contas públicas (política fiscal).
Esse reconhecimento implícito dentro do governo não deixa de ser novidade. Até agora, nossas autoridades não identificavam nenhum problema grave. A inflação, por exemplo, era coisa temporária, causada por fatores externos e de reversão garantida. Com alguma paciência, logo viria a convergência, mais ou menos espontânea, para a meta.
O diagnóstico oficial para o PIB fraco era da mesma ordem. A crise externa e a recessão dos países ricos haviam encurtado o mercado para o produto brasileiro, mas, logo depois da primeira curva, viria aí o "pibão grandão", de nada menos de 4,0% a 4,5% ao ano (algumas áreas do governo projetavam até 5,0%), que tiraria as diferenças. Afora isso, os números do pleno emprego e do consumo interno robusto passavam atestado de saúde da economia.
Não basta o reconhecimento do ministro, e do governo, de que alguma coisa desandou. É preciso entender por quê. E, outra vez, o governo não parece interessado no diagnóstico.
Parece óbvio que ela se deveu às aplicações experimentalistas de política macroeconômica adotadas pelo governo Dilma. Foi a tal Matriz de Política Econômica, que se baseou na derrubada dos juros sem fundamentação técnica suficiente (meta dos juros em substituição à meta de inflação), na adoção de uma política orçamentária flácida, em nome da necessidade de adotar critérios anticíclicos (mais despesa em tempos de produção mais baixa) e no incentivo ao consumo sem correspondência na capacidade de oferta da economia.
Isso significa que, para garantir a virada, não basta submeter a economia a alguns ajustes de circunstância e incentivar os puxadinhos de sempre. É preciso mais.
É um equívoco, por exemplo, afirmar que a política fiscal do governo Dilma seja um descalabro. Apesar dos problemas, não é. Ela é apenas insuficientemente rigorosa para assegurar os objetivos pretendidos. Por isso, também, é a mãe das distorções. Menos rigor na administração das contas públicas estufa o consumo, abre rombo nas contas externas e exige um esforço excessivo da política monetária (política de juros) para controlar a inflação.
Tudo isso também provoca deterioração da credibilidade do governo, retrai os investimentos e leva o consumidor a atitudes bem mais conservadoras na administração do seu orçamento doméstico. A redução do apoio à presidente Dilma é consequência de tudo isso.
Já foi dito algumas vezes nesta Coluna que dá, sim, para reverter a situação adversa para o governo. Mas não custa repetir. A melhor sugestão nesse sentido foi manifestada pelo ex-ministro Delfim Netto. Para ele, o choque de credibilidade que mudaria muita coisa depende de que o governo federal assuma o compromisso formal de perseguir e atingir, em três ou quatro anos, o déficit nominal zero na condução das contas públicas. Com isso, receitas e despesas (incluídas as dos juros da dívida) do governo se equilibrariam, a dívida cairia em relação ao PIB e os investimentos voltariam a fluir.
Como não há nada de novo na administração da economia - a não ser a atuação mais realista do Banco Central a partir de abril -, também não dá para contar com que, em apenas cinco ou seis meses, melhore o desempenho da economia, como quer o ministro Gilberto Carvalho.
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