FOLHA DE SP - 12/07
RIO DE JANEIRO - Ontem, ao abrir um livro, caiu-me ao colo uma nota de R$ 1 --a velha nota original de um real. Novinha, fazendo "crec", como se tivesse acabado de sair da prensa. Se a guardei ali, deve ter sido por algum motivo, de que já não me lembro. Por motivos estéticos é que não foi --esverdeada, tendo numa face a efígie da República, com seus olhos vazados, e, no verso, um beija-flor alimentando os filhotes, é uma das notas mais feias do currículo da Casa da Moeda.
Não tem data de impressão, mas pode ser um exemplar de 1994, quando o real foi criado --sucedendo, se ainda me lembro, aos cruzeiros e cruzados velhos, novos, com ou sem carimbo e com ou sem zeros, com que tínhamos de viver no tempo da inflação. O real fazia parte de um vasto plano econômico criado no governo Itamar Franco e que, ao contrário dos planos dos governos anteriores, chegou e resolveu.
Dizia-se que, com R$ 1, comprava-se uma dúzia de ovos, suficiente para alimentar uma família por 24 horas. Ou uma galinha inteira, com o que cada brasileiro podia produzir seus próprios ovos e ainda conservar a galinha para um dia de chuva. Ia-se longe com aquela nota --no mínimo, do Leme ao Pontal, ida e volta.
Talvez eu a tivesse guardado para saber quanto valeria no futuro. Pois, se foi por isso, acertei. A brava nota de R$ 1 resistiu bem, mas já perdeu tanto de seu poder que, agora, compra apenas três ovos e, em vez de uma galinha, no máximo quatro asas de frango. E nem existe mais como cédula --seu valor sobrevive somente numa moeda que, hoje, só serve de troco.
Nesta semana, o FMI rebaixou em vários pontos a projeção de crescimento do Brasil em 2013 e alertou para a possibilidade de inflação alta. Acho melhor devolver a nota ao livro --por acaso, uma antiga edição de "A Ilha do Tesouro", da Coleção Terramarear.
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