BRASIL ECONÔMICO - 12/07
As nebulosas relações entre o governo federal e o empresário podem se configurar em um escândalo de corrupção e favorecimento ilícito ainda mais grave que o mensalão. Um relatório apresentado pela agência de classificação de risco Moody’s indica que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal (CEF) têm, juntos, 55% dos empréstimos do grupo EBX, de Eike.
Uma análise feita pelo Bank of America/Merryl Linch mostra que a exposição das empresas de Eike no mercado financeiro está concentrada em cinco bancos brasileiros: além de BNDES (R$ 4,888 bilhões) e Caixa (R$ 1,392 bilhão), aparecem os privados Bradesco (R$ 1,252 bilhão), Itaú Unibanco (R$ 1,235 bilhão) e BTG Pactual (R$ 649 milhões). Ao todo, essas instituições somam uma exposição de mais de R$ 9,4 bilhões ao grupo do empresário. A EBX não possui capital aberto e, por isso, não divulga seus balanços, mas há estimativas deque o endividamento do grupo com os bancos atinja o montante de R$ 13 bilhões.
O descalabro não para por aí. Desde 2007, primeiro ano do segundo governo de Lula, o BNDES disponibilizou a Eike Batista a quantia de R$ 10,4 bilhões, e o empresário teria utilizado sua fortuna pessoal como garantia para R$2,3 bilhões em empréstimos. Como se trata de um banco público, com recursos que pertencem à sociedade brasileira, é fundamental que o BNDES esclareça quais foram os critérios utilizados para a aprovação de um aporte tão elevado de dinheiro destinado a empresas que apresentavam alto risco.
Afinal, ao menos desde junho de 2012, quando a petroleira OGX informou que a capacidade de produção de seus poços seria bem menor do que havia sido divulgado aos investidores, todos os projetos de Eike foram colocados em dúvida, culminando no comunicado divulgado pela própria empresa na semana passada dando conta de que pode ter de interromper as atividades em 2014.
Não se pode esquecer, ainda, da influência de Lula em prol dos negócios de Eike. Segundo uma reportagem publicada pela "Veja" em março deste ano, o ex-presidente teria atuado para que o estaleiro Jurong Shipyard, de Cingapura, transferisse o projeto realizado no Porto de Ara-cruz, no Espírito Santo, para se associar ao empreendimento de Eike no Porto de Açu, no Rio de Janeiro.
Curiosamente, o derretimento da credibilidade de Eike se dá concomitantemente à expressiva queda na avaliação positiva do governo Dilma, em um momento em que milhões de brasileiros vão às ruas para cobrar os resultados que não lhes foram entregues nos últimos dez anos de fantasia petista. Não se trata de mera coincidência: os governos do PT tentaram fazer do dono do grupo EBX o perfeito exemplar do que seria um capitalista para chamar de seu. O fracasso de um, portanto, está intrinsecamente ligado ao de outro. Eike Batista é o símbolo de uma era marcada pela fraude.
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