A queda na popularidade da presidente Dilma Rousseff associada à piora da sensação de bem-estar em decorrência da redução do poder de compra devido ao aumento da inflação, mostra o quanto se ilude quem acreditar que o casamento do eleitorado com governos do PT é por amor. Não há expectativa de bom comportamento, coerência nem identificação ideológica envolvida nessa relação. Prova disso é a indiferença dos votantes à reviravolta moral e doutrinária de um partido que chegou à Presidência da República prometendo ética na política e mudanças radicais na economia.
Se a geladeira nova está garantida, se o farnel mensal inclui itens antes proibitivos, se dá para viajar de avião, entrar numa agência com R$ 1.000 e sair de lá de carro zero, pouco importa que a mula manque aqui e ali. No terreno das malfeitorias os critérios de aceitação não são rígidos. Mas quando o bicho começa a claudicar na seara das benfeitorias a coisa muda de figura. Dinheiro não aguenta desaforo e eleitor evita levar prejuízo para casa.
Posto assim, de maneira um tanto rude, é o que se tem como pano de fundo da pesquisa do Instituto Datafolha que no último fim de semana registrou redução de oito pontos nos quesitos “ótimo e bom” na avaliação do governo federal, confirmando outras pesquisas. Oficialmente não registradas, mas ultimamente destrinchadas em gabinetes palacianos e saletas oposicionistas.
Trata-se de um contrato pragmático como são todos os assinados de tempos em tempos entre governados e governantes. A união não é estável, o que não quer dizer que esteja em via de dissolução. Longe disso. Apenas significa que nada há de especial, de místico ou de inexplicável nessa relação até então resistente às tempestades.
Tudo muito simples: a população começa a se sentir insegura naquilo que para ela é primordial e deixa o desconforto patente nas pesquisas. Há a alta da inflação, mas houve também o episódio do programa Bolsa Família, que levou ao eleitorado mais fiel aos governos petistas a percepção de que a gerência do país não é assim tão competente quanto reza a propaganda.
A queda na popularidade atingiu todas as regiões do país, todas as idades, todos os extratos de renda, todas as faixas de escolaridade, ambos os sexos. O dado não é irrelevante como por dever de ofício avaliaram porta-vozes oficiais. O abalo é expressivo, principalmente para governo que vem se desgastando no quesito credibilidade e sustenta-se no pilar da popularidade que, por sua vez, tem seu alicerce mais forte na sensação de que o Brasil chegou ao paraíso nas asas do monopólio da sensibilidade social do qual o PT se presume detentor.
Como isso é uma ilusão, mais cedo ou mais tarde as pessoas iriam começar a cair na real. Espaço para recuperação de popularidade Dilma Rousseff tem de sobra. A questão é como atuará daqui em diante para recuperar confiabilidade. Tarefa muito mais difícil, principalmente em ambiente de aflição eleitoral – péssimo conselheiro quando as circunstâncias restringem a margem de manobras para bondades.
A perda na avaliação do governo refletiu-se, por óbvio, nas intenções de voto. Era de 58% dos votos o patrimônio de Dilma em março e hoje é de 51%. Ótimo ainda. Naquele critério de que “se a eleição fosse hoje”, ganharia no primeiro turno. Uma ficção, em verdade, pois equivaleria a acreditar que os oponentes não conquistariam nenhum eleitor quando a campanha efetivamente começar. É possível que se comece a falar de novo na hipótese da candidatura do ex-presidente Lula.
Convém, no entanto, prestar atenção aos números: se Dilma tem 51% no melhor cenário, na hipótese mais favorável Lula aparece com 55%, o que não projeta garantia de salvação da lavoura.
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