A frase “é a economia, idiota” foi criada por James Carville, estrategista da campanha vitoriosa de Bill Clinton, em 1992, contra George H. W. Bush, para ser uma das diretrizes a serem seguidas pelo candidato democrata. E funcionou. A economia americana estava em recessão, a crise serviu de munição eleitoral, e a maioria do eleitorado decidiu não dar o segundo mandato a Bush, pai daquele que viria a residir na Casa Branca oito anos depois. Desde então, a frase passou a constar das análises sobre chances de candidatos, virou bordão.
Neste fim de semana, a correlação entre o futuro da candidata à reeleição Dilma Rousseff e a situação da economia brasileira emergiu com força, ao ser divulgada pesquisa do Datafolha com a primeira queda de popularidade da presidente desde a posse, em janeiro de 2011. O índice de apoio a seu governo — a soma daqueles que o consideram “bom” e “ótimo” — caiu oito pontos, de 65%, em fins de março, para 57%, segundo pesquisa feita na quinta e sexta-feira da semana passada. O número continua robusto, nada que revogue a condição da presidente de favorita nas eleições do final do ano que vem. Mas será preciso acompanhar o sentimento do eleitorado nos próximos meses, já temeroso da volta da inflação, preocupado com o mercado de trabalho e a situação em geral da economia, segundo a própria pesquisa.
Como previsto, só resta ao governo evitar o desgarramento da inflação, no momento no limite superior da meta — 6,5%, um índice elevado, tanto que já assusta o eleitorado —, e trabalhar para a recuperação da economia em bases sólidas, via reativação dos investimentos. Descontadas as diferenças de época, Dilma se defronta com desafios semelhantes àqueles com que Lula se deparou ao assumir em 2003. Com o dólar nas alturas e a inflação já de volta aos dois dígitos, o novo presidente concordou com a aplicação do receituário clássico nestas circunstâncias (elevação de juros e corte de despesas), e assim evitou a desestabilização da economia. Em outra dimensão, é semelhante o desafio que a conjuntura atual da economia coloca à frente do governo Dilma. A fixação do risco do Brasil em viés de baixa pela agência Standard & Poor’s e, logo depois, o mesmo para 11 instituições financeiras, entre elas o Banco do Brasil e o BNDES, além de Eletrobras e Petrobras, confirma a percepção de que o discurso oficial, por definição sempre muito otimista, deixou de ser ouvido. Cada vez mais, Dilma precisa agir com os dotes de administradora, para imprimir velocidade aos investimentos públicos, por exemplo. No primeiro quadrimestre, eles ficaram estacionados em 1,51% do PIB, mesmo índice de idêntico período de 2012. E apenas R$ 22,9 bilhões foram investidos, apenas 17,6% do total autorizado pelo Orçamento, revelou O GLOBO.
Costuma haver uma defasagem entre a ação do governo e o efeito concreto das medidas. A política econômica atual, portanto, pode estar definindo os humores do eleitorado para daqui a um ano e meio.
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