O Estado de S.Paulo - 11/06
"Inovar para competir" foi o tema do Fórum Estadão Investimentos, que no dia 4 reuniu lideranças empresariais e políticas para refletir sobre o assunto. Os participantes concordam que a inovação é essencial para o desenvolvimento em geral e para assegurar a competitividade das empresas brasileiras. O presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Glauco Arbix, resumiu o desafio ao alertar que sem inovação e tecnologia não é possível elevar a produtividade, estagnada desde os anos 80. Os participantes ainda reconhecem notável progresso nas políticas públicas, mas apontam que os mecanismos de apoio à inovação não têm sido eficazes: "As empresas que se beneficiam da Lei do Bem não chegam a mil", afirma Pedro Wongtschowski, do Grupo Ultra, referindo-se aos incentivos fiscais.
Apesar dos avanços da política pública e de inúmeros exemplos de empresas brasileiras que cresceram e conquistaram mercados pois ousaram inovar, a inovação não alcançou o ritmo nem a amplitude necessários para modificar a estrutura produtiva rumo ao uso intensivo de conhecimento, cada vez mais necessário, até mesmo nas atividades intensivas em recursos naturais. A revista Pesquisa Fapesp deste mês apresenta dados sobre a evolução do dispêndio feito pelas empresas em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de 2000 a 2012, como a porcentagem do PIB regional, que confirmam que a inovação não decolou e que as políticas de inovação e industrial têm sido ineficazes para elevar o gasto em P&D, base da inovação tecnológica. Para o Brasil, como um todo, o porcentual de gastos privados caiu de 0,5% para 0,45% do PIB de 2000 a 2012. Para o País, sem São Paulo, o porcentual caiu de 0,34% para 0,22% do PIB, e para São Paulo passou de 0,78% do PIB estadual para 0,92%, com um pico de 0,99% em 2010. Os números estimados pela pesquisa da Fapesp mostram que há muito mais mistério entre as políticas de incentivo do governo e a capacidade da indústria de fazer P&D do que temos sido capazes de explicar.
É inevitável pensar na importância do macroambiente em que as empresas competem, formulam e executam suas estratégias de sobrevivência e crescimento. Pedro Passos, da Natura, pôs o dedo próximo a uma das feridas ao ser "um pouco provocativo" e dizer que "a inovação no País é baixa porque a competição é pequena". Poucas empresas, em torno de 2 mil, inovam regularmente pois não sobreviveriam sem inovar e são mais impelidas pela concorrência que pelos incentivos públicos. Mas, ainda que todos concordemos com a importância estratégica da inovação para o futuro do País, é preciso perguntar se, no contexto da economia brasileira, a inovação é mesmo tão vital para a maioria das empresa e, se é, por que não inovam. O fato é que a maioria não tem condições materiais e financeiras, e talvez o investimento em inovação não resolva os problemas que enfrentam para sobreviver hoje nem assegure a competitividade, fortemente comprometida pelos altos custos sistêmicos, pelo câmbio sobrevalorizado e a própria instabilidade do quadro econômico geral, que ora empurra para maior internacionalização, ora indica vantagens para substituição de importações. Assim, para a maioria, a melhor postura seria mesmo a defensiva, ajustar na margem, buscar novos benefícios pontuais para compensar os altos custos, pressionar por mais proteção contra as importações e negociar novos pacotes de incentivo e apoio, mesmo quando o conjunto do empresariado sabe que este caminho é paliativo e que o bom mesmo seria inovar, conquistar novos mercados e ser competitivo por eficiência e qualidade.
Um amigo ilustrou a situação da inovação no Brasil com a figura de um barco com um enorme rombo na proa, que não afunda porque os passageiros drenam parte da água usando canecas de café. A política de inovação está distribuindo xícaras de café sem consertar o rombo. Isso é vital para o barco não afundar, mas não vai mudar de forma substantiva o quadro atual. Para isso, a inovação precisa compensar!
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