FOLHA DE SP - 11/06
SÃO PAULO - Há poucas semanas eu imprecava aqui contra o presidente dos EUA, Barack Obama, por sua incapacidade de fechar a famigerada prisão de Guantánamo, como havia dito que faria ao longo de sua primeira campanha eleitoral. Mal imaginava eu que a lista de desserviços de Obama à causa dos direitos civis era muito mais ampla.
A revelação de que o mandatário norte-americano deu continuidade a programas secretos que permitem ao governo bisbilhotar em massa as comunicações de cidadãos e de estrangeiros sem nenhum tipo de controle judicial torna ainda mais escabroso o estelionato eleitoral do democrata, que se comprometera a reverter as arbitrariedades perpetradas pela administração de George W. Bush.
A pergunta é: como isso aconteceu? Parece improvável que Obama, que ironicamente foi professor de direito constitucional na Universidade de Chicago, já tenha ido para a campanha disposto a quebrar suas promessas. É mais verossímil que ele tenha sido paulatinamente convencido pelas circunstâncias e, principalmente, por seus interlocutores habituais a rever suas posições.
A lição assustadora da psicologia social é a de que o ser humano pode passar por cima de suas convicções e de várias barreiras morais se for devidamente compelido por seus pares. E nem precisa ser uma pressão muito intensa, como revelam os ilustres experimentos de Stanley Milgram, nos quais voluntários, levemente instados por um pesquisador, não hesitam em dar choques que acreditam ser quase fatais num ator.
Basicamente, se você anda muito com os paranoicos da CIA e da NSA (Agência de Segurança Nacional), é questão de tempo até começar a pensar como eles. Tal constatação, porém, não deveria servir para aliviar a barra de Obama, que, afinal, foi eleito presidente dos EUA justamente para que os diretores das agências de segurança passassem a pensar mais como ele --e não o contrário.
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