O GLOBO - 05/05
O crescimento das exportações foi fundamental para o Brasil pôr em ordem suas contas externas, a partir da mudança do regime de câmbio, que se tornou flexível em 1999. Superávits comerciais sucessivos reduziram a dependência da economia brasileira a financiamentos em moeda estrangeira, até então concentrados em capitais muito voláteis, dispostos a correr mais riscos em troca de uma rentabilidade bem acima da oferecida por outros mercados.
À medida que essa dependência foi diminuindo, a economia brasileira conseguiu ser promovida pelas agências internacionais de classificação de risco, e, pouco a pouco, investidores de médio e longo prazos se interessaram pelo país. Superávits polpudos no balanço de pagamentos, em função dos saldos na balança comercial e da entrada de capitais, geraram considerável sobra de divisas no país, levando o Banco Central a adquirir tal excedente para reforçar as reservas cambiais brasileiras. O resultado é que, hoje, o Brasil tem quase US$ 380 bilhões em reservas, está entre as economias com o conceito de grau de investimento em todas as agências internacionais de classificação de risco, e não sofre a ameaça de sofrer uma crise financeira semelhante à enfrentada por países da Europa.
No entanto, a manutenção desse quadro certamente dependerá do bom desempenho das exportações nos próximos anos, e também de uma melhora nos resultados que envolvem serviços. No conjunto dessas contas, que formam as chamadas transações correntes, o Brasil vem registrando um déficit crescente, que, para este ano, é projetado acima de US$ 60 bilhões (ou algo próximo a 2,9% do Produto Interno Bruto).
Pelos modelos macroeconômicos, esse déficit decorre da insuficiência de poupança no país. Com considerável volume de investimentos diretos, o Brasil tem conseguido se financiar com poupança externa de boa qualidade. A dívida em moeda estrangeira, por exemplo, já não é mais um pesadelo, como no passado. Mas economia brasileira precisa mostrar capacidade de gerar divisas para honrar seus compromissos no futuro.
O ressurgimento do déficit na balança comercial (mais de US$ 6 bilhões no primeiro quadrimestre de 2013) pode ser um problema pontual, resultante da importação de derivados de petróleo, especialmente gasolina e diesel, mas decorreria também da perda relativa de mercados nas exportações. Embora tal desequilíbrio não chegue a oferecer risco no curto prazo, deveria ser motivo de reflexão.
Não são poucos os entraves aos ganhos de produtividade que poderiam tornar a economia mais competitiva; mas a questão da gestão, tanto no setor público como na iniciativa privada, sem dúvida é um fator determinante na busca de soluções.
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