FOLHA DE SP - 05/05
SÃO PAULO - Erros primários de dois economistas num estudo que justificava políticas de austeridade foram descobertos por um grupo de pesquisadores e a polêmica ganhou dimensões virais na internet, como mostrou reportagem de Patrícia Campos Mello. As piadas que surgiram na controvérsia são boas, mas, como este é um espaço sério, arrisco um comentário sobre o estatuto epistemológico da economia.
Aqui nós somos vítimas de uma metáfora. Consideramos ciência tudo o que acadêmicos publicam, sem levar em conta as especificidades dos diversos ramos do saber. Enquanto a física me permite prever com precisão a que hora será a segunda maré cheia em Santos em 28 de setembro de 2113, a economia e as demais ciências sociais ficam muito aquém disso.
Publicações especializadas como "The Economist", em 1995, e "Brill's Content", em 1999, fizeram matérias satíricas mostrando respectivamente que lixeiros e até um chimpanzé chamado Chippy faziam previsões econômicas mais acuradas do que especialistas. Em 2005, porém, o psicólogo Philip Tetlock publicou um estudo devastador. Ele coletou, ao longo de 20 anos, 28 mil prognósticos feitos por 284 experts em economia e política e os comparou com os desfechos do mundo real. Na média, os cientistas se saíram milimetricamente melhor do que Chippy, que acertava a metade de suas "previsões".
Nem todos erraram igualmente. Especialistas menos tonitruantes, que expressavam seus prognósticos em termos de probabilidades e não de certezas e que recorriam a múltiplas fontes de dados e não só a suas teorias favoritas, não foram tão mal.
Devemos ser céticos, mas sem atirar a criança com a água do banho. No atual estágio de desenvolvimento, estudos e modelagens econômicos valem tanto por seus erros como por seus acertos, à medida que nos permitem entender melhor os fenômenos e distinguir princípios causais de ruídos ideológicos.
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